segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
...

Álvaro de Campos, in "Poemas"

Símbolos

Símbolos? Estou farto de símbolos...
Mas dizem-me que tudo é símbolo,
Todos me dizem nada.
Quais símbolos? Sonhos.
— Que o sol seja um símbolo, está bem...
Que a lua seja um símbolo, está bem... Que a terra seja um símbolo, está bem...
Mas quem repara no sol senão quando a chuva cessa,
E ele rompe as nuvens e aponta para trás das costas,
Para o azul do céu?
Mas quem repara na lua senão para achar Bela a luz que ela espalha, e não bem ela?
Mas quem repara na terra, que é o que pisa?
Chama terra aos campos, às árvores, aos montes,
Por uma diminuição instintiva, Porque o mar também é terra...
Bem, vá, que tudo isso seja símbolo...
Mas que símbolo é, não o sol, não a lua, não a terra,
Mas neste poente precoce e azulando-se
O sol entre farrapos finos de nuvens,
Enquanto a lua é já vista, mística, no outro lado,
E o que fica da luz do dia
Doura a cabeça da costureira que pára vagamente à esquina
Onde se demorava outrora com o namorado que a deixou?
Símbolos? Não quero símbolos...
Queria — pobre figura de miséria e desamparo! —
Que o namorado voltasse para a costureira.
Álvaro de Campos, in "Poemas"

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Modernismo

Como categoria periodológica, Modernismo viria a designar sistematicamente, e primeiramente na Inglaterra e nos U.S.A, uma classe de textos literários com feições diferenciadas e condicionadas pelo seu próprio tempo histórico de produção e recepção. No dizer lapidar de uma modernista, a diferenciação teria sido profundíssima: «Por volta de dezembro, 1910, a natureza humana modificou‑se». (Woolf, 1966: 320) A quem repugne a «natureza humana», que esta observação torna de resto menos «metafísica», poderia dizer‑se que mudou pelo menos a «natureza» dos textos literários; e que em muitos casos a mudança se traduziu num encaminhamento da literatura para a suposta natureza deles.
Dando corpo ao consenso que deve exprimir‑se num «dicionário de termos», Wendell V. Harris delimita o período modernista entre 1912 e 1930, dizendo a delimitação «grosseira». (Harris, 1992: 238) E a extensão mais consequente à literatura continental, acertada já pelo relógio anglo‑saxónico, deve‑se porventura a Fokkema e Ibsch, (1987) que alargam o período para 1910‑1940. Em ambos os casos, estamos perante a afirmação e o triunfo da literatura modernista. E os dois últimos autores perspectivam‑nos o objecto tão continentalmente incontroverso quanto seria mainstream. Não podem não ter razão. Haverá obras mais modernistas do que Os Moedeiros Falsos de Gide, Os Sonâmbulos de Broch, ou O Homem sem Qualidades de Musil?
O uso daquele nome foi ele próprio historicamente condicionado, quando não inibido. Nos países de língua latina teve de, senão ceder‑lho, partilhar o designado com literatura de vanguarda ou aparentados.
As duas designações são inegavelmente motivadas pela ênfase concedida ao ethos e ao pathos do «novo» e da «inovação» pelos próprios autores modernistas, mas também pela contemporaneidade de origem com os chamados movimentos de vanguarda.
Assim, na área hispano‑falante, e por assim dizer antes de tempo, a literatura avançada do simbolismo encontraria para se designar a palavra «modernismo», tornando muito difícil a sua transferência para textos e autores que cada vez mais universalmente se designam como modernistas; em França (e não só), o sucesso relativo e recente da designação modernismo parece depender da estima que vai sendo concedida a termos como pós‑modernidade e pós‑modernismo; (cf. Compagnon, 1990) em Itália, literatura de vanguarda gozou até muito tarde de uma preferência geral, talvez porque modernismo designara com a autoridade do papa e do dogma as condenáveis «ideias modernas», tão cedo como 1907.
Américo António Lindeza Diogo

Simbolismo

0 movimento simbolista encontra na literatura francesa a sua referência fundamental. 1886, vinte anos depois de ter saído o Parnasse Contemporain e vinte e três antes do Manifesto Futurista de Marinetti, apareceu “Le Symbolisme” de Jean Moréas, que o publica, como acontecerá depois com Marinetti, em Le Figaro. Neste manifesto considera se que o simbolismo é um resultado da própria evolução da literatura, admitindo-se que essa evolução é cíclica. 0 que o caracteriza, segundo Moréas, são as metáforas estranhas, o vocabulário novo harmonicamente sustentado e aberto à valorização do ritmo, particularmente sensível no alexandrino (devido à questão da ce­sura), etc. Outro aspecto abordado, mas na parte final e brevemente, diz respeito ao “romance simbólico”, que se admite acompanhar a evolução da poesia e centrar?se numa “deformação subjectiva” (a qual assenta neste “axioma”: “a arte apenas deve pro­curar no que é objectivo um simples ponto de partida extremamente sucinto”). Moréas aponta uma genealogia para esta nova opção literária sendo os mais próximos precursores no caso da poesia Baudelaire, Mallarmé ou Verlaine, e, mais alargadamente quan­to à prosa, Stendhal, Balzac, Flaubert e Edmond Goncourt. Em 1886, apareceu também Le Décadent, revista a que está ligado A. Baju, La Décadence, outra revista, de que René Ghil é secretário de redacção e, do mesmo Ghil, o Traité du Verbe, prefaciado por Mallarmé. Saídas no mesmo ano, estas revelam na maioria dos seus títulos uma certa indefinição quanto aos limites entre simbolismo e decadentismo. Se admitirmos que Baudelaire é a referência que vem dos anos 50 (1857 é a data de publicação das Fleurs du Mal), poderíamos, aproximativamente, admitir o desenvolvimento de duas linhas paralelas. Uma — que conduziria ao simbolismo — passaria pelas grandes obras, algumas delas reportando?se aos anos 70, de Mallarmé, Verlaine e Rimbaud; a outra — que acompa­nharia o desenvolvimento do decadentismo — seria traçada por Rollinat (Les Névroses, 1883), Huysmans (A Rebours, 1884) ou, já sob a forma de pastiche, pela publicação que H. Beauclair e G. Vicaire fazem de Les Deliquescences (1885), aliás atribuída a Adoré Floupette. Oscilando entre estas duas orientações, dir?se?ia que do lado aos decadentes prevalecia, uma temática, sendo esta marcada por uma tonalidade disfórica, pelo pessimismo, o dolorismo, a nevrose, a deliquescência, retomando estas duas últimas palavras dois títulos atrás referidos; do lado dos simbolistas prevalece uma mais funda consciência do papel que as figuras — símbolo, metáfora, imagem — e o ritmo — em consonância com este corpo figural — desempenham na linguagem poética, o que Moréas traduziu sob uma forma aparentemente enigmática: a poesia simbolista procura “vestir a Ideia de uma forma sensível”.
Fernando Guimarães

Decadentismo

O conceito de decadência remete, originariamente, para um significado histórico-político e, numa acepção mais lata e algo “impressionista”, para uma atmosfera psicológica e moral (decorrente, em parte, de um particular contexto socioeconómico e político epocal onde confluem imagens e recordações da fase crepuscular de antigas civilizações) que caracterizou a cultura europeia (com acentuados reflexos e prolongamentos na América Latina e Estados-Unidos da América, por exemplo) do último quartel do século XIX. Nos quadros mentais da “Europa das Luzes”, particularmente em França, o conceito surge relacionado, pela primeira vez, com o declínio do Império Romano tardio (Montesquieu, Considérations sur les causes de la grandeur des romains et de leur décadence, 1734; edição definitiva em 1748), legitimando e reforçando os ditames da emergente racionalidade clássica. Posteriormente, nessa linha, poder-se-á ler o fragmentário Essai sur les causes et les effets de la perfection et de la décadence des lettres et des arts (1780-1790; título segundo a edição póstuma de Abel Lefranc, 1899) de André Chernier, ou ainda a obra de Désiré Nisard, historiador da literatura clássica, Etudes de moeurs et de critique sur les poètes latins de la décadence (1834), autor que compara a obra de Lucano, poeta maneirista latino, com a literatura do seu tempo, assinalando numerosas coincidências negativas na sobrecarga erudita, no uso pretensamente inexacto das palavras e nas complicadas figuras de estilo. Exemplos da formulação de juízos valorativos profundamente desvalorizadores da decadência, com base num pessimismo cultural que tem a sua génese numa interpretação histórica “descendente”, que entende a História como uma decadência gradual, desde o estado mítico do Paraíso e da “Idade do Ouro” até à queda final.
José António Costa Ideias

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Sul


"Uma das pessoas que me ensinou a viajar foi a minha mãe. Ensinou-me como uma simples frase. A única vez que viajámos juntos fomos a Roma. Estávamos sentados uma tarde na Piazza Navona, o seu local preferido de Roma. Ela bebia um dos seus inúmeros chás diários e há mais de uma hora que ali estávamos, sentados a contemplar a beleza perfeita da praça, enquanto fumávamos vários cigarros - ainda o mundo não era o que é hoje, uma quinta de virtudes ditadas pelos americanos.(...) Mas estávamos ali há demasiado tempo, era a primeira vez que vinha a Roma e tinha, logicamente, alguma pressa de seguir caminho e ver outras coisas. Sentindo a minha impaciência, a minha mãe disse-me: "Miguel, viajar é olhar." Até hoje, fiquei sempre cativo desta frase e do que ela implica e compromete o verdadeiro viajante."

Breve História de Portugal

Esta «Breve História de Portugal» destina-se a todos aqueles a quem, não sendo especialistas, interessa conhecer a história portuguesa nas suas grandes linhas.
O autor privilegiou os conceitos gerais e a interpretação, sem perda do rigor historiográfico que estamos habituados a encontrar em obras assinadas com o seu nome. A opção de escolher o 25 de Abril como limite do seu estudo prende-se ao facto de o autor considerar que não se encontram ainda reunidas condições para "fazer história" nas duas décadas que se lhe seguiram.
A.H. de Oliveira Marques é um dos mais eminentes historiadores portugueses e autor de uma já extensa bibliografia sobre um vasto leque de temas relacionados com a História de Portugal.
Fnac

Este é um pequeno e interessante livro a que recorro frequentemente. Nele é fácil localizar acontecimentos da História de Portugal escritos de forma simples e muito fácil de compreender.

Obra Poética



A presente edição, agrupando pela primeira vez num único tomo a obra poética da autora, segue e actualiza os critérios de fixação de texto adoptados na segunda das referidas séries, a série das edições «revistas». Publica-se igualmente, neste volume, um conjunto de poemas dispersos em revistas, em livros colectivos, em jornais e num cartaz, desde textos que remontam à primeira fase da produção de Sophia, dos anos 1940, até aos últimos poemas escritos em 2001. Alguns destes textos já foram dados a conhecer na antologia Mar, a partir da 5.a edição, saída em 2004 (selecção e organização de Maria Andresen de Sousa Tavares). Não se inclui no presente volume um número considerável de poemas inéditos, que integram o espólio da autora, e que aguardam publicação em futura edição crítica.
Fnac

sábado, 20 de novembro de 2010

Mais um



Venho mostrar o meu novo livro. Na Unidade Curricular Cultura Portuguesa, estamos a trabalhar sobre a importância de Fernando Pessoa, enquanto figura marcante das tendências estético-literárias que personificam o primeiro Modernismo em Portugal.

Este pequeno livro, que reune um conjunto importante de pensamentos de Fenando Pessoa, irá certamente ser-me de grande utilidade.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

História da Literatura Portuguesa

Se o livro sobre lendas e mitos é mais para momentos de lazer, este tem uma função pedagógica. É nele que irei estudar momentos e obras importantes da Literatura Portuguesa. Neste momento é o Romantismo e o Realismo, com toda a sua envolvência, que tento conhecer.




Livros novos

Este livro chegou hoje pelo correio. Gosto de lendas e mitos mas desde que estudei alguns mitos de Metamorfoses de Ovídio, passei a ter mais interesse pelo assunto. Sempre que tenho oportunidade gosto de investigar e tentar conhecer um pouco as mentalidades que nos precederam. Talvez não chegue a conclusão alguma, isso é para os historiadores, mas ficarei com mais dúvidas que as que tenho hoje.







quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Ginkgo Biloba

Original do poema de Goethe, Ginkgo Biloba

Essa folha de uma árvore do Oriente
Brotou em meu jardim
Ela revela certo segredo
Que me atrai e às pessoas contemplativas

Ela representa Uma só criatura
Que a si mesmo se dividiu?
Ou são duas, que decidiram
Que Uma deveriam ser?

Para responder a essa questão,
Descobri a resposta certa:
Nota que em minhas canções e em meus versos
Sou Um e sou Dois?


Tradução de Flávio Demberg

domingo, 24 de outubro de 2010

O fio do tempo


Sinopse


Um espião inglês roubou as cartas de marear. Vasco de Melo, amigo íntimo de D. Manuel I, persegue os culpados. E não olha a meios para agradar ao rei. Chegam novas de Pêro Vaz de Caminha, e morre um dos mais antigos cavaleiros do reino. Seguindo as memórias deste cavaleiro medieval que serviu dois reis, João Paulo Oliveira e Costa escreve um fabuloso romance histórico a fazer-nos viajar até à Lisboa medieval.


O séc. XV português pelo olhar de um homem com mais de cem anos...
D. Álvaro de Ataíde é o narrador deste segundo romance do autor.
Optando pelo registo de memória do cavaleiro que serve sobre o reinado de D. Afonso V e D. Manuel I, em «O Fio de Areia» sentimos o país voltado para fora, ouvimos o lamento dos negros nas ruas, o burburinho de uma cidade onde tudo se vende e compra.

Depois de «O Império dos Pardais», o historiador português leva à ficção um tempo de mudança e de grande riqueza humana. Partindo do olhar de um homem que assistiu já a dois reinados, conta os meandros do poder e da espionagem que envolviam a casa real portuguesa e as casas reais europeias. Um registo simultaneamente intimista e empolgante – a fazer-nos seguir no encalço do roubo das importantes cartas de marear da Casa da Mina. Especialista nos Descobrimentos e na Expansão Portuguesa, director do Centro de História de Além-Mar, o autor leva à ficção o seu conhecimento ao mesmo tempo que ousa (pela ficção, repita-se) ir mais longe no retrato do Portugal de então.

Livraria Bertrand

sábado, 23 de outubro de 2010

Sobre Antero de Quental

"…E aí, um Domingo, tem uma visão que nunca esquece, a de uma cidade puritana (Halifax ou Lunenberg), silenciosa, como adormecida no Senhor, toda de tijolo cor-de-rosa sob um céu cor de pérola, com fundas avenidas mais pensativas que as dos Elísios, onde os namorados passeiam, numa mudez de sombras, de dedos enlaçados, de pálpebras baixas, respirando sem outro desejo a flor da sua emoção. Quantas vezes Antero me contava dessa piedosa e suave cidade, e do longo apetite que ela repentinamente lhe dera de quietação eterna!"

Assim escrevia Eça de Queirós numa das suas notas contemporâneas, intitulada Um génio que era um santo, sobre Antero de Quental. Não resisti a trancrever esta pequena passagem tão cheia de "quietação".

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Romantismo

Johann Heinrich Wilhelm Tischbein, 1787
Pintura Romantica que retrata a Viagem de Goethe a Itália.
“Se tivéssemos o direito de dizer qual poderia ser, em nosso gosto, o estilo do drama, quereríamos um verso livre, franco, leal, que ousasse tudo dizer sem hipocrisia, tudo exprimir sem rebuscamento e passasse com um movimento natural da comédia à tragédia, do sublime ao grotesco; alternadamente positivo e poético, ao mesmo tempo artístico e inspirado, profundo e repentino, amplo e verdadeiro”

Victor Hugo sobre a teoria do drama romântico no prefácio de Cromwell

O Mito da Europa

O rapto da Europa de Rubens

A princesa Europa nasceu no mediterrâneo e era filha de Agenor o rei fenício de Sídon, segundo os mitos gerados nas cidades que se levantam de um lado e do outro do Mar Egeu. Zeus, o rei dos deuses, tinha-se apaixonado loucamente por ela. Certo dia, a princesa passeava na praia com as suas companheiras, quando Zeus tomou a forma de um touro branco e mansamente se veio deitar a seus pés. Europa acariciou primeiro o animal, e depois deixou-se subir para o seu dorso. Nesse momento, o touro levantou-se impetuosamente e cavalgando as ondas do mediterrâneo foi depositá-la debaixo de um plátano na ilha de Creta, ilha onde Zeus tinha passado a sua infância.Diz o poeta Mosco de Alexandria, que Europa, rainha de Creta, foi “mãe de filhos gloriosos cujos ceptros hão-de acabar por dominar todos os homens da terra” ; Minos, Radamanto e Sarpédon.Este quadro da filha do rei fenício raptada por um touro, divindade cretense mas igualmente de fenícios e arameus, não fica completo sem uma referência ao sonho da bela princesa. Europa tinha tido um pesadelo perturbante no dia anterior ao rapto, no qual duas mulheres exigiam a autoridade sobre ela, uma delas representava a Ásia e declarava ser sua mãe; a outra que simbolizava um continente desconhecido (América), afirmava que Europa lhe tinha sido dada por Zeus.Nos mitos gerados no mar egeu, Europa é, deste modo, o nome que se deu a um novo continente que tem a Ásia por mãe. Sabemos hoje, através da arqueologia, que a civilização europeia viajou no mediterrâneo na proa dos barcos fenícios, e Creta é o seu primeiro pólo, mas que esta civilização se desenvolveu igualmente como resultado das ligações terrestres que uniram a Europa à Ásia através da actual Turquia.Se a civilização europeia nasceu na Fenícia, é através de Ulisses que vem até ao ocidente mediterrânico, e até ao território actualmente português, trazida pelas diásporas fenícias, cartaginenses e romanas.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Polémico?






Sinopse
"Uma confissão que não vai deixar ninguém indiferente.Terá coragem de ler?
Aos olhos do mundo, Inês é a menina perfeita. Frequenta um dos melhores colégios nos arredores de Lisboa e relaciona-se com filhos de embaixadores e presidentes de grandes empresas. Por detrás das aparências, a realidade é outra, e bem distinta. Inês e os seus amigos são consumidores regulares de drogas, participam em arriscados jogos sexuais e utilizam desregradamente a internet, transformando as suas vidas numa espiral marcada pelo descontrolo físico e emocional.
Francisco Salgueiro dá voz à história real e chocante de uma adolescente portuguesa, contada na primeira pessoa. Um aviso para os pais estarem mais atentos ao que se passa nas suas casas. "


Não conheço o livro mas é um tema que me interessa. As mentalidades mudaram com grande rapidez e vivemos todos numa grande confusão. Não se percebe bem quem dita as regras nem quem dá orientação. Acreditávamos que os mais velhos deviam ser guias dos mais novos, entretanto os mais novos passaram a ter uma participação mais activa, e bem, mas rapidamente perdemos o controlo. Encontro no meu dia a dia situações muito estranhas de divisão de responsabilidade entre adultos e crianças, bem pequenas, que não me deixam nada tranquila.
Quando ouço uma criança de cinco ou seis anos a tomar decisões pelo adulto, parece-me mais desrespeito do que partilha.
Veremos...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Colapso

Este ainda está na minha lista de futuras leituras...


Sinopse
"Como pode o mundo evitar a autodestruição?
Porque é que há sociedades que colapsam e outras não? Que escolhas económicas, sociais e políticas devemos fazer para não conhecermos o mesmo fim da civilização Maia? Com uma extraordinária erudição e originalidade, Jared Diamond, o prestigado Professor de Geografia da Universidade da Califórnia e vencedor de um prémio Pulitzer em 1998, interroga-se neste seu brilhante livro acerca dos sinais que podem evidenciar-nos de que o fim de uma civilização se encontra próximo e de que modo, ao observá-los, podemos prevenir o seu colapso. De âmbito vasto, lúcido e escrito com vivacidade, Colapso é um dos livros essenciais da nossa época, ao colocar uma questão urgente: Como pode o mundo evitar a autodestruição?
O que é mais assustador do que o espectro do colapso de uma civilização – os templos abandonados de Angkor Wat, as cidades maias engolidas pela selva, a vigília sombria das estátuas da Ilha da Páscoa? Quem olhou já para essas ruínas e não se interrogou: isto poderá acontecer-nos? Que escolhas económicas, sociais e políticas devemos fazer para não conhecermos o mesmo fim?
Para responder a estas inquietações, será necessário saber o que provocou a hecatombe das grandes civilizações do passado e o que é possível aprender com o seu destino trágico. Jared Diamond fundamenta a sua tese recorrendo a uma série de narrativas histórico-culturais fascinantes. Deslocando-se com facilidade e perspicácia da cultura pré-histórica polinésia e das antigas civilizações americanas nativas dos Anasazi e dos Maias para a colónia viquingue medieval da Gronelândia e, por fim, o mundo moderno, o autor identifica um padrão fundamental da catástrofe, mostrando-nos o que acontece quando depauperamos os recursos, ignoramos os sinais que o ambiente nos dá, nos reproduzimos demasiado depressa ou abatemos demasiadas árvores. "

O Império dos Espiões


A espionagem em Portugal e nas colónias.
Sinopse
O Império dos Espiões é a história inédita e fascinante da actuação dos serviços secretos estrangeiros durante a Segunda Guerra Mundial em Portugal e nas antigas colónias ultramarinas. A neutralidade colaborante de Salazar não impediu os agentes alemães, italianos, britânicos e norte-americanos de conspirarem contra o regime e de conduzirem operações bélicas no nosso país, quer em Portugal continental, quer em Goa, Guiné ou Moçambique.
Muitos portugueses participaram nessa guerra secreta. Cândido de Oliveira, por exemplo, jornalista e desportista, foi o responsável de uma rede de sabotagem do Special Operations Executive britânico; Agostinho Lourenço colaborou com os serviços de informações alemães e foi utilizado pelos americanos numa vasta operação destinada a manipular a espionagem japonesa em Lisboa.
Acedendo a inúmeros documentos classificados, incluindo de arquivos militares estrangeiros, Rui Araújo, um dos autores portugueses mais credenciados em matéria de espionagem, revela ao leitor histórias impensáveis, personalidades surpreendentes e casos inéditos, tornando O Império dos Espiões numa obra obrigatória para conhecer melhor um período único da História de Portugal.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Resgate dos mineiros

Não sou conhecedora da política nem da cultura chilena mas não há dúvida de que todo o processo de resgate dos trinta e três mineiros foi muito bem conduzido. Assisti há pouco, pela televisão, à saída de um dos mineiros e pareceu-me apenas uma pessoa razoavelmente cansada, ao fim de um dia de trabalho.
Enquanto pessoa, senti orgulho em todos os que contribuiram para o, quase alcançado, sucesso desta operação.
O mundo seria bem melhor se em todas as situações, mesmo no dia a dia, houvesse este empenho e dedicação.

Quem sou eu, para duvidar?

Sinopse
"E se pudesse alcançar tudo aquilo que a vida tem guardado para si?
A vida tem um mistério infinito, tem segredos e promessas. Só não tem, infelizmente, um manual de instruções. E quando no nosso caminho surgem problemas para os quais não temos solução, muitas vezes ficamos bloqueados, e não conseguimos dar o passo seguinte.
Daniel Sá Nogueira sabe disso melhor do que ninguém. O mais conhecido formador português saiu de casa ainda muito novo, à procura de respostas. Viajou durante anos e fez os mais diferentes cursos, aprendeu com mestres, coachs e psicólogos de todo o mundo, viu e ouviu muito, leu tudo o que havia para ler.
Aos poucos encontrou um caminho, desenvolveu um método para a vida, que qualquer pessoa, de qualquer idade, pode pôr em prática. Começou por transmiti-lo a pequenos grupos, que entretanto se tornaram em audiências de centenas e milhares de pessoas. A todos transmite o método da ROSA, que a partir da Psicologia Positiva e do coaching fornece uma série de técnicas simples que lhe permitirão ver com clareza onde está, para onde quer ir, e como lá chegar.
Imagine que quer comprar uma casa, ser promovido no emprego, dar a volta ao mundo, escrever um best-seller ou encontrar o amor da sua vida. Parece-lhe impossível? Não é. Com este livro vai perceber que todos os sonhos estão ao seu alcance, e de que tudo o que precisa é saber como torná-los realidade.
Arrisque. Sonhe. Acredite."

terça-feira, 12 de outubro de 2010

E porque não?

O autor aproxima-se do escritor, apreendendo a forma de escrever os romances ou o modo de Saramago ler a Bíblia até ao centro da terrível intimidade que é o tema de Deus e da morte.
Os Fantasmas de Saramago não é um ajuste de contas literárias com o escritor. Não pretende directamente interpelar nem o autor, nem o político, nem o poeta, nem o romancista, embora passe pela sua maneira de escrever. Interpela o homem de carne e osso, que nasce, sofre e morre – sobretudo, que morre e carece de uma instância superior. Por isso, este livro é uma meditação acerca da instância superior que Saramago rejeita e ridiculariza.
Este livro questiona as ideias acerca da realidade da vida, vida que começa e acaba e questiona também o crente de uma religião militante não só laica, mas laicista, que confessava que um dia desapareceria no rio do esquecimento, como dizia Rafael Alberti. Os interpelantes, Ortega y Gasset e Julián Marías, são filósofos da vida e da esperança. São dois irmãos na mesma jangada de pedra, a Península Ibérica, que Saramago tanto defendia e amava. Eles propõem uma perspectiva inovadora que ajuda a pensar, a projectar e até a esperar para além do horizonte, do esquecimento e do nada.
Oferecendo uma série de reflexões que Saramago parece nunca ter ouvido ou meditado, recomenda-se a leitura deste livro que interessará a todos que se questionam e que lêem Saramago.

Este livro aguça-me a curiosidade. Espero que corresponda às minhas espectativas. Como gosto e leio muito a obra de Saramago parece-me um desafio interessante.

Não tenho, mas gostava de ter.

Sinopse
" Varsóvia, 1942. A Polónia foi devastada pelos nazis e pelos soviéticos. Jan Karski é um mensageiro da Resistência polaca junto do Governo no exílio, em Londres. Encontra dois homens que o conseguem introduzir clandestinamente no gueto de Varsóvia, para que ele possa dizer aos Aliados o que viu e preveni-los de que os judeus da Europa estão a ser exterminados. Jan Karski atravessa a Europa em guerra, alerta os ingleses, e tem um encontro com o Presidente Roosevelt na América. Trinta e cinco anos mais tarde, Karski conta a sua missão nessa época em SHOAH, o grande filme de Claude Lanzmann. Impõe-se a terrível pergunta: Porque é que os Aliados permitiram o extermínio dos judeus da Europa? Este livro, que combina os meios do documentário com os da ficção, conta a vida desse aventureiro que foi também um Justo."

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Uma história da leitura


Sinopse
Uma notável e fascinante viagem pela evolução do leitor e da leitura numa obra que vem colmatar uma lacuna na história da literatura internacional. Um sucesso editorial surpreendente da autoria de um nome que se tem destacado nas áreas do romance, da tradução e da edição.

sábado, 9 de outubro de 2010

Parece-me interessante

Os problemas que antes se adivinhavam, e que infelizmente foram escamoteados, são hoje incontorná-veis. Analisando-os, Manuel Maria Carrilho avança com várias propostas, defendendo uma visão do País e do seu futuro centrada na urgente qualificação do território, das instituições e das pessoas, que lance as bases de uma Nova República.No meio de uma crise que torna a intervenção pública um imperativo de cidadania, este livro procura, num registo simultaneamente político e pedagógico, estimular um debate fundamental sobre os problemas do nosso tempo e do nosso País.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Nobel da Literatura


Não estava na lista dos favoridos ao Nobel deste ano mas era um eterno candidato. Maria Vargas Llosa, de 74 anos (28 de Março de 1936), é considerado um dos mais influentes escritores da sua geração. A Academia Sueca destingue-o "pela sua cartografia das estruturas de poder e pelas suas imagens mordazes da resistência, revolta e derrota dos indivíduos".
Líder político, ativista pelos direitos do homem, pela igualdade social e pela liberdade, manteve-se sempre fiel a uma luta contínua por um mundo melhor. Resistente como poucos, nunca baixou os braços perante qualquer regime.
O impacto internacional da sua obra é indiscutível. A obra "A Cidade e os Cães", do início dos anos 60, foi o seu primeiro título a correr mundo, mas terá sido com "Conversa na Catedral" e "A Tia Júlia e o Escrevedor" que o reconhecimento se consolidou. Autor versátil, Vargas Llosa tem a capacidade de deslumbrar leitores tanto com romances históricos como com policiais políticos.
O autor, tal como grande parte dos escritores latino-americanos, teve um início de carreira profundamente enraizado na sua cultura natal, mas foi progressivamente abordando temas mais universais. O seu envolvimento político, desde logo com o regime de Fidel Castro, e empenhamento social foi um dos seus motores de escrita. Analista acutilante da realidade cresceu como romancista e enriqueceu a literatura mundial.
Vargas Llosa, que está em Manhattan, onde se encontra a lecionar na Universidade de Princeton, é o 103.º Prémio Nobel da Literatura, atribuído pela primeira vez em 1901. No ano passado a distinção foi atribuída a Herta Müller. O francês Jean-Marie Gustave Le Clézio recebeu o galardão em 2008, Doris Lessing em 2007, Orhan Pamuk em 2006 e Harold Pinter em 2005. José Saramago, falecido em Junho deste ano, recebeu o Nobel em 1998, sendo o primeiro português a ser distinguido nesta categoria pela Academia Sueca.

Fonte

Duplo

O conceito mais comum relativamente ao duplo é que este é algo que, tendo sido originário a partir de um indivíduo, adquire qualidade de projecção e posteriormente se vem a consubstanciar numa entidade autónoma que sobrevive ao sujeito no qual fundamentou a sua génese, partilhando com ele uma certa identificação. Nesta perspectiva, o DUPLO é uma entidade que duplica o “eu”, destacando-se dele e autonomizando-se a partir desse desdobramento. Gera-se a partir do “eu” para de imediato, dele se individualizar e adquirir existência própria. A sua coexistência como o “eu” de que é originário, contudo, nem sempre é pacífica. Podem ocorrer duas modalidades: a) o DUPLO apresenta, segundo o julgamento do “eu”, características positivas, sendo resultante de um processo de identificação entre o “eu” e o seu DUPLO; b) o DUPLO apresenta, de acordo com o julgamento do “eu”, características negativas, resultantes de um processo de oposição entre o “eu” e o seu DUPLO, pela constatação de uma não correspondência de traços ou características afins. Desta forma, podemos deparar com um ambiente ou contexto em que o sujeito e o seu DUPLO coexistem em perfeita simbiose, ou então, sujeito e o seu DUPLO afirmam-se e afastam-se pela iminência de uma diferença consagrada.
O DUPLO enquanto extensão do sujeito (DUPLO endógeno) e seu perfeito desdobramento, partilha com este traços evidentes que exaltam esse seu estatuto de “sombra”. Estabelece-se entre ambos uma relação de harmonia e cumplicidade. O inverso também é possível, se o DUPLO gerado a partir de um sujeito permanece enquanto seu contraste, confirmando-se uma relação bilateral de adversidade e oposição. Em ambos os casos, parece notória a noção de que o D., tendo tido a sua génese em um sujeito determinado, sendo uma cópia do mesmo, uma mimese, não pode desfrutar do mesmo estatuto ontológico subjacente ao “eu” a partir do qual se originou.

Carla Cunha

DOPPELGÄNGER

Termo alemão para sósia ou duplo de uma personagem, uma espécie de alma gémea ou mesmo um fantasma que persegue um indivíduo, confundindo-se com a sua própria personalidade. É o caso da narrating soul que envolui no romance Time’s Arrow (1991), de Martin Amis. Neste caso, trata-se de um ser que não quer conhecer o sofrimento humano, « a sentimentalized fœtus, with faithful smile » (2ª ed., Penguin, Harmonsworth, 1992, 50) e que habita a personagem Odilo Unverborden. O doppelgänger nunca é visto por ninguém a não ser pelo seu portador. Não se vê ao espelho, não se mostra a mais ninguém para além da nossa mais perturbadora auto-consciência. A ideia de um sósia ou duplo fantasmagórico pode não envolver uma relação tão íntima entre o doppelgänger e o seu portador. Em termos menos abstractos, podemos falar desta relação quando uma personagem se inscreve na história literária com um nome que tem já uma tradição, e que se lhe apresenta como um fantasma sempre incómodo.
O homem tem sempre que aprender a viver com as suas próprias sombras ou réplicas. Esta é uma crença primitiva, pois desde sempre se acreditou que um encontro imediato com o nosso doppelgänger é um sinal de que a morte está próxima. Toda a literatura de terror e de horror faz uso desta personagem de forte impacte psicológico, não como mortos-vivos mas como seres que vivem para nos atormentar ou para vencer os nossos medos e terrores. O Duplo (1846), de Dostoievsky, apresenta-nos um terrível duplo de Golyadkin, clérigo infortunado no amor e na vida, que será vencido por si próprio.

Bibliografia

Este livro faz parte da bibliografia obrigatória da minha licenciatura, este semestre. Já li o livro há cerca de três anos, de modo que vou ter que relê-lo, agora com um olhar mais atento e crítico. É isso que mais me fascina nesta licenciatura: tentar perceber o sentimento do autor quando cria uma personagem e uma história.
O "Homem Duplicado" é sem dúvida um dos romances mais originais e mais fortes do autor de "Memorial do Convento".
Tertuliano Máximo Afonso, professor de História no ensino secundário, «vive só e aborrece-se», «esteve casado e não se lembra do que o levou ao matrimónio, divorciou-se e agora não quer nem lembrar-se dos motivos por que se separou», à cadeira de História «vê-a ele desde há muito tempo como uma fadiga sem sentido e um começo sem fim».Uma noite, em casa, ao rever um filme na televisão, «levantou-se da cadeira, ajoelhou-se diante do televisor, a cara tão perto do ecrã quanto lhe permitia a visão, Sou eu, disse, e outra vez sentiu que se lhe eriçavam os pêlos do corpo»...Depois desta inesperada descoberta, de um homem exactamente igual a si, Tertuliano Máximo Afonso, o que vive só e se aborrece, parte à descoberta desse outro homem.
A empolgante história dessa busca, as surpreendentes circunstâncias do encontro, o seu dramático desfecho, constituem o corpo deste romance de José Saramago.
O Olhar Distanciado de Claude Lévi-Strauss
Os grandes temas antropológicos – parentesco, organização social, mitologia, ritual, arte – numa obra constituída por escritos esparsos que toma a envergadura de um pequeno tratado de etnologia.
Nascido em 1908 em Bruxelas, de formação filosófica, CLAUDE LÉVI-STRAUSS é antropólogo, professor e filósofo, considerado o fundador da Antropologia Estruturalista, em meados da década de 1950. A extensão do seu trabalho, a profundidade das suas análises, a importância do seu ensino (École Pratique des Hautes Études; Collège de France, durante 30 anos; e ainda professor de Sociologia na Universidade de São Paulo, Brasil, de 1935 a 1939), sem esquecer o clássico da escrita (Tristes Trópicos tem algumas das mais belas páginas da literatura francesa), fazem de Lévi-Strauss um dos mais influentes intelectuais franceses do nosso tempo.

"A ideia de raça"

MICHAEL BANTON
Desde as teorias pré-darwinistas dos tipos raciais até às concepções do «poder negro» e às novas abordagens do problema das minorias, o autor apresenta um quadro que permitirá desfazer a herança de preconceitos e erros que tradicionalmente afectam a análise deste tema.
Figura central da Antropologia Social britânica e Europeia desde a década de 50 do século passado, pioneiro e figura chave da história da antropologia, etnicidade e relações raciais na Grã-Bretanha, MICHAEL BANTON foi o primeiro professor de sociologia da universidade de Bristol, e director do respectivo departamento desde 1965 até à sua reforma, em 1992, quando foi nomeado Professor Emérito.Foi, em Bristol, de 1966 a 1969, o primeiro editor do jornal Sociology, e entre 1970-78, Director do Social Science Research Council Research Unit on Ethnic Relations. Foi em simultâneo Presidente das secções de Sociologia e de Antropologia da British Association for the Advancement of Science, e entre 1987-89 Presidente do Royal Anthropological Institute. Entre 1986-2001 foi eleito membro (e presidente, entre 1996-98) da Comissão das Nações Unidas para a Eliminação da Discriminação Racial. Actualmente Michael Banton ainda colabora activamente com o departamento de Sociologia e Etnicidade no que se refere a investigação e debates. Reside em Kent, perto da casa onde Charles Darwin viveu e trabalhou de 1842 a 1882.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O prazer de ler

"... tão importante quanto ler é ler para alguém, com alguém. Ah, o indizível prazer de ler com o amado um poema. De ler a um filho uma história e ver nos olhos dele a preocupação com as aventuras finais daquele herói inventado."

História da Literatura Europeia de Maria Luísa Malato

terça-feira, 5 de outubro de 2010

"Imaginem"

Imaginem que todos os gestores públicos das 77 empresas do Estado decidiam voluntariamente baixar os seus vencimentos e prémios em dez por cento. Imaginem que decidiam fazer isso independentemente dos resultados. Se os resultados fossem bons as reduções contribuíam para a produtividade. Se fossem maus ajudavam em muito na recuperação. Imaginem que os gestores públicos optavam por carros dez por cento mais baratos e que reduziam as suas dotações de combustível em dez por cento. Imaginem que as suas despesas de representação diminuíam dez por cento também. Que retiravam dez por cento ao que debitam regularmente nos cartões de crédito das empresas. Imaginem ainda que os carros pagos pelo Estado para funções do Estado tinham ESTADO escrito na porta. Imaginem que só eram usados em funções do Estado. Imaginem que dispensavam dez por cento dos assessores e consultores e passavam a utilizar a prata da casa para o serviço público. Imaginem que gastavam dez por cento menos em pacotes de rescisão para quem trabalha e não se quer reformar. Imaginem que os gestores públicos do passado, que são os pensionistas milionários do presente, se inspiravam nisto e aceitavam uma redução de dez por cento nas suas pensões. Em todas as suas pensões. Eles acumulam várias. Não era nada de muito dramático. Ainda ficavam, todos, muito acima dos mil contos por mês. Imaginem que o faziam, por ética ou por vergonha. Imaginem que o faziam por consciência. Imaginem o efeito que isto teria no défice das contas públicas. Imaginem os postos de trabalho que se mantinham e os que se criavam. Imaginem os lugares a aumentar nas faculdades, nas escolas, nas creches e nos lares. Imaginem este dinheiro a ser usado em tribunais para reduzir dez por cento o tempo de espera por uma sentença. Ou no posto de saúde para esperarmos menos dez por cento do tempo por uma consulta ou por uma operação às cataratas. Imaginem remédios dez por cento mais baratos. Imaginem dentistas incluídos no serviço nacional de saúde. Imaginem a segurança que os municípios podiam comprar com esses dinheiros. Imaginem uma Polícia dez por cento mais bem paga, dez por cento mais bem equipada e mais motivada. Imaginem as pensões que se podiam actualizar. Imaginem todo esse dinheiro bem gerido. Imaginem IRC, IRS e IVA a descerem dez por cento também e a economia a soltar-se à velocidade de mais dez por cento em fábricas, lojas, ateliers, teatros, cinemas, estúdios, cafés, restaurantes e jardins.Imaginem que o inédito acto de gestão de Fernando Pinto, da TAP, de baixar dez por cento as remunerações do seu Conselho de Administração nesta altura de crise na TAP, no país e no Mundo é seguido pelas outras setenta e sete empresas públicas em Portugal. Imaginem que a histórica decisão de Fernando Pinto de reduzir em dez por cento os prémios de gestão, independentemente dos resultados serem bons ou maus, é seguida pelas outras empresas públicas. Imaginem que é seguida por aquelas que distribuem prémios quando dão prejuízo. Imaginem que país podíamos ser se o fizéssemos. Imaginem que país seremos se não o fizermos.

Mário Crespo

domingo, 3 de outubro de 2010

Porque gritamos?

Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta aos seus discípulos:
"Porque é que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?"
"Gritamos porque perdemos a calma", disse um deles.
"Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado?" Questionou
novamente o pensador.
"Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça", retrucou outro
discípulo.
E o mestre volta a perguntar:
"Então não é possível falar-lhe em voz baixa?" Várias outras respostas surgiram,
mas nenhuma convenceu o pensador.
Então ele esclareceu:
"Vocês sabem porque se grita com uma pessoa quando se está aborrecido?"
O facto é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, os seus corações afastam-se muito.
Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais
aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para se ouvirem um ao outro, através da
grande distância. Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão apaixonadas? Elas
não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque os seus corações estão muito perto. A
distância entre elas é pequena. Às vezes os seus corações estão tão próximos, que nem falam,
somente sussurram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer de sussurrar,
apenas se olham, e basta. Os seus corações entendem-se. É isso que acontece quando duas
pessoas que se amam estão próximas."
Por fim, o pensador conclui, disse:
"Quando vocês discutirem, não deixem que os vossos corações se afastem, não digam palavras
que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais
encontrarão o caminho de volta".

Mahatma Gandhi

sábado, 2 de outubro de 2010

Histórias falsas


"Descia Mercator umas pequenas escadas quando deparou com o filósofo, pobremente vestido, sentado no chão, contra a parede, a comer lentilhas. Arrogante, mais do que era seu costume, cheio de vaidade pela riqueza que ostentava, e pelo estômago farto, disse, para Diógenes: – Se tivesses aprendido a bajular o rei, não precisavas de comer lentilhas. E riu-se depois, troçando da pobreza evidenciada por Diógenes. O filósofo, no entanto, olhou-o ainda com maior arrogância e altivez. Já tivera à sua frente Alexandre, o Grande, quem era este, agora? Um simples homem rico? Diógenes respondeu. À letra: – E tu – disse o filósofo – se tivesses aprendido a comer lentilhas, não precisavas de bajular o rei."
"Histórias Falsas" de Gonçalo M. Tavares Livros de bolso

Aforismo

[Do gr. aphorismós, “limitação; definição; breve definição, sentença”.] Aparece, na maioria dos dicionários, com este sentido, ou seja, com uma definição semelhante à de provérbio, dito, ditado, dizer, adágio, rifão, anexim e à de máxima, sentença, apotegma, sendo as fronteiras entre estes termos pouco definidas. O aforismo e esta segunda série de termos podem ter, no entanto, uma dimensão mais culta. Surge como ponto de contacto entre o filosófico e o literário: ”Forme de transition qui organise le général et lui impose l’empreinte de l’individuel, l’aphorisme se trouve à la frontière de la philosophie” (Silvian Iosifescu, “L’aphorisme et la poésie des idées”, Cahiers roumains d’études littéraires, 1, 1987, p.54). Deve ser analisado segundo o conteúdo semântico e os padrões estruturais. É um estilo de discurso ligado à percepção do mundo e que pode contribuir para a expressividade da mensagem.
A análise linguística dos aforismos pode revelar certas estratégias lexicais, sintácticas e semânticas. Assim, para além do conteúdo, deve-se ter em conta a forma de expressão, normalmente curta e concisa. Tem habitualmente sentido figurado e grande expressividade estilística. A sua função pragmática é fundamental. A forma lacónica, de expressão curta, e a natureza de máximo apuramento dos aforismo propicia uma grande condensação de potencialidades significativas, apresentando assim um código de prescrições sociais para a interpretação da realidade. O recurso frequente a palavras polissémicas, a sinónimos, antónimos, a perguntas retóricas, torna-o um instrumento clássico do poder do discurso. Pode aparecer como afirmação política, filosófica, moral, apresentando um ideal de sabedoria.
Pode também ter o significado de um princípio científico comprovado pela experiência. Hipócrates (séc.V a.C.), por exemplo, é autor da obra Aforismos, que reúne 400 máximas de medicina. É um dos modos de expressão frequentes em filosofia. Segundo alguns autores, o aforismo filosófico tem uma pretensão de verdade, enquanto o A. puramente literário tem uma potência de expressão inesgotável. Trata-se, assim, de um termo que aparece nos dicionários de filosofia. Relacionado com a gnomologia (filosofia sentenciosa) e com “epifonema”, que poderá ser uma das formas de utilização do aforismo, já que aquele é uma exclamação sentenciosa, mas numa determinada posição na economia textual, ou seja, terminando uma narrativa ou um discurso.
É nas literaturas orientais que se encontram os mais antigos documentos de índole aforística. Encontram-se nos escritos de várias civilizações, sendo uma forma de expressão internacional e intemporal, o que não impede que possam ter marcas das ideologias dominantes em cada época. Cerca de 2000 anos a. C. aparecem máximas, sentenças hindus; na China há também larga documentação aforística. São fórmulas que pertencem à literatura sacra e o seu carácter esotérico continuará no budismo. Vários autores reuniram aforismos ou compuseram livros de carácter aforístico também na Europa. A Enciclopédia Luso Brasileira de Cultura dá exemplos como João de Meditauro (séc. XI), La Rochefoucauld (Maximes, 1664), Pascal (Pensées, 1670), Schlegel, Novalis, Nietzsche, Chesterton, Ebner-Eschenbach, etc.
Como forma literária independente e culta o aforismo caracteriza o classicismo: “Le goût pour la concentration lapidaire de la pensée, l’attitude moraliste avec son illusion de découvrir des coordonnées psychologiques valables partout et toujours, la sagacité didactique, l’intellectualisme classique trouvent leur meilleure expression dans les maximes, les sentences, les pensées et les réflexions. (...) Les maximes accumulées deviennent donc les exposants de l’individualité et de l’histoire. À travers elles, un homme témoigne de son époque et s’exprime en simulant l’objectivité d’un énoncé général” (Iosefescu, idem, p.50 e 52).
A relação entre a confissão e os enunciados sentenciosos é conservada sobretudo nos diários, nas memórias (como por exemplo em Kafka ou Camus). Há também exemplos portugueses de várias épocas, como D.Francisco de Portugal (Sentenças, ed.post., 1605), Matias Aires (Reflexões, 1752), Rodrigues Bastos (Colecção de máximas e provérbios, 1845), Fernando Ribeiro de Mello (Nova recolha de provérbios portugueses e outros lugares comuns, 1974). Autores como Sá de Miranda, D. Francisco Manuel de Melo, P. Manuel Bernardes, têm obras de pendor aforístico. A escritora contemporânea Agustina Bessa-Luís publicou, em 1988, a obra Aforismos e Virgílio Ferreira, em 1992, publica uma obra que não se assume com essa designação mas que tem pendor aforístico: Pensar. No sentido mais corrente, de sabedoria popular, um exemplo de aforismo pode ser “Tal pai, tal filho”; no sentido mais elaborado: “A virtude dos perversos está em que, em consciência, não se permitem alianças”, “De todas as coisas, a menos susceptível de se comunicar é o amor; mas a fé no amor, essa age sempre com um conhecimento acessível a todos os homens” (Agustina Bessa-Luís, Aforismos, Guimarães Editores, 1988, pp.126 e 127).

Maria da Natividade Pires

Valor estético

O valor estético de uma obra literária não é algo que possa ser proposto como um absoluto em si mesmo, na medida em que circula por ordens muito próprias de existência social e cultural dos objectos considerados artísticos. A relação de dependência mútua entre o valor estético, a função estética e a norma estética foi brilhantemente estudada pelo checo Jan Mukarovský, durante as décadas de Trinta e Quarenta, no âmbito mais geral da pesquisa teórica e crítica levada a cabo pelo chamado Estruturalismo Checo*, e antes de Mukarovský cair no erro infeliz de, sobretudo a partir de 1951, negar toda a sua obra anterior em nome da adesão a uma triste ortodoxia comunista (veja-se R. Wellek, 1970).
É ainda operativo o quadro teórico por que Jan Mukarovský, o mais brilhante continuador do pensamento dos formalistas russos e um dos patronos incontestados, juntamente com Felix Vodicka, da estética da recepção alemã, colocou a problemática da literatura no quadro sociológico dinâmico de uma realização simultaneamente semiótica e comunicativa. Partindo da premissa de que «a obra literária é um signo, e portanto, pela sua própria essência, um facto social» (J. Mukarovský, 1936, 1977: 94), Mukarovský destaca a importância dos valores extra-estéticos contidos numa obra, tanto nos seus componentes formais como temáticos e, por aí, introduz o receptor como ser social, isto é, como uma figura cujos dados intelectuais, emocionais e volitivos globais se confrontam com os factos inscritos na obra: “As experiências que vibram no receptor graças ao impacto da obra de arte transmitem os seus movimentos à imagem global da realidade na mente do receptor” (loc. cit.).
É por esta relação entre a construção interna da obra e os paradigmas de conhecimento vigentes na colectividade que a recebe que Mukarovský propõe, por um lado, um entendimento da função estética como uma construção cultural variável no tempo e no espaço e, por outro lado, um entendimento da norma estética como critério estabilizador do valor estético—sujeita, por isso, a constantes violações e sucessivas alternâncias (vd. id.: 60-61). Se o estético não é uma característica real das coisas, nem tão pouco está relacionado de maneira unívoca com qualquer característica das coisas, a função estética também não está sob o domínio pleno do indivíduo: “A estabilização da função estética é um assunto da colectividade, e a função estética é uma componente da relação entre a colectividade humana e o mundo. Por isso, uma extensão determinada da função estética no mundo das coisas está relacionada com um conjunto social determinado. A maneira como este conjunto social concebe a função estética determina finalmente também a criação objectiva das coisas com o fim de conseguir um efeito estético e a atitude estética subjectiva em relação às mesmas” (id.: 56).
Por outro lado, a norma estética, que tende para uma obrigatoriedade sem excepções sem atingir nunca a validade de uma lei (isto é, sem se negar como norma), autolimita-se permanentemente, não só pelas possibilidades que constantemente existem de ser violada, mas também porque qualquer norma pode coexistir (e normalmente coexiste) com outras normas aplicáveis ao mesmo caso concreto. Ambas possuem o mesmo valor e ambas competem entre si: “A norma está (...) baseada numa antinomia dialéctica fundamental entre a validade incondicional e a potência meramente reguladora, e inclusive só orientadora, que implica a possibilidade da sua violação” (id.: 61). E ainda: “As normas que se enraizaram muito fixamente em qualquer sector da esfera estética ou em algum meio social podem sobreviver muito tempo; as normas novas estratificam-se paulatinamente a seu lado, e assim surge a convivência e a competição de muitas normas estéticas paralelas” (id.: 71).
A conceptualização do valor estético decorre naturalmente deste entendimento da existência da função e da norma. Partindo do princípio de que o cumprimento da norma não é uma condição indispensável do valor, Mukarovský desloca a problemática do valor estético para a validade e alcance da valoração estética, fazendo depender, no entanto, o estudo dessa problemática do reconhecimento fundamental da variabilidade da própria valoração estética: “O valor estético é (...) variável em todos os seus graus, sendo impossível que se mantenha numa imobilidade passiva. Os valores «eternos» mudam e transformam-se em parte mais lentamente, em parte de maneira menos perceptível do que aqueles que estão em níveis inferiores. Mas nem sequer o próprio ideal da durabilidade invariável do valor estético, independente das influências do exterior, constitui em todas as épocas e em todas as circunstâncias o mais alto e o único desejável” (id.: 82).
A variabilidade surge, assim, inscrita na própria essência do valor estético. Mesmo aqueles autores sinalizados pelos chamados «valores eternos», como por exemplo Shakespeare, não estão isentos desta inscrição. Por um lado, porque é possível observar, em relação ao drama shakespeariano, «oscilações» valorativas importantes. Por outro lado, e principalmente, porque há diferenças substanciais entre as obras de Shakespeare que cada tempo, cada lugar, cada espaço cultural sente(m) como «vivo», ou «histórico», ou «representativo», ou «escolar», ou «exclusivo» ou «popular» (vd. id.: 81).
Neste sentido, o valor estético, porque não é unívoco nem invariável, não será um estado (ergon) supra-social ou trans-histórico, mas um processo (energeia) decorrente da lógica da evolução social e do seu sistema de dominações. Por isso, ainda que se apresente sem mudanças no tempo e no espaço, o valor estético surge como um processo multiforme e complexo, manifestando-se, por exemplo, nos desacordos entre os críticos acerca de obras recém-criadas, na instabilidade dos gostos no mercado artístico, na valorização ou desvalorização súbitas de certos autores, etc. (vd. id.: 83).
Por outro lado, o valor estético também se encontra dependente da influência de instituições sociais que actuam directa ou indirectamente no sistema de valoração. Para além da acção institucional da crítica, o condicionamento da valoração estética surge desde logo na educação, em particular na educação artística, no mercado das obras e nos meios publicitários, nas exposições, nos museus, nos concursos e nos prémios públicos e, não raras vezes, na censura. Todas estas instituições, em conjunto com outras cuja acção é menos evidente mas não menos eficaz, representam tendências sociais específicas e, portanto, não só determinam que «o processo de valoração estética [esteja] relacionado com a evolução social» (id.: 84), mas também que «o carácter colectivo e incondicional da valoração estética se reflicta nos juízos individuais» (loc. cit.).
Função, norma e valor estéticos são assim entendidos por Mukarovský, nas suas múltiplas e complexas relações, como factos sociais, isto é, dependentes das contingências de diferentes formações sociais, de diferentes programas colectivos de conhecimento, de diferentes contextos históricos e culturais. A produtividade teórica e crítica destes aspectos nucleares do pensamento de Mukarovský mantém-se ainda viva e actuante.

Manuel Frias Martins

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Vida de sabonete

Era um sabonete novo, fresquíssimo, por estrear. Nunca tinha tomado banho. Naquela gaveta de drogaria, onde ele, junto com muitos outros colegas, aguardava a vez de ser vendido, já tinha perguntado, ainda que timidamente: - Afinal, para o que é que eu servi? - Serves para lavar e perfumar - respondeu-lhe um velho sabonete de alcatrão, muito sabedor das coisas da vida. - Vais dar banho, tomar banho... Descansa que o que te espera vai ser bom. Um sabonete para a caspa, ou melhor, contra a caspa, acrescentou: - Mas tudo o que é bom também acaba. Era o rezingão do grupo. O sabonete novo teve a oportunidade de confirmar as previsões do velho sabonete. Tudo aconteceu como ele dissera. Deu banhos e tomou banhos, escorregou vezes sem conta pelo mármore polido da banheira, conviveu com esponjas, escovas macias e conheceu da anatomia do corpo mais do que um pintor de nus. Mas, redondo que tinha sido, estava agora delgadito. Ainda foi parar à beira de um lavatório, a par de outros tão magros quanto ele. - Somos, agora, sabonetes de lavar as mãos - avisaram-no os companheiros. Até ver... Tudo o que é bom também acaba. Lá estava o aviso, de novo a insinuar-se, a dar que pensar. Ele e os outros da saboneteira foram-se desfazendo em espuma. ?Tudo o que é bom também acaba". O sabonetinho, que tinha sido novo, começava a perceber. Até que veio um menino que queria fazer uma caldeirada. No dizer desse menino ?caldeirada" era juntar, numa tigela, sobras de sabão e de sabonetes, acrescentar água, remexer com uma cana e, depois da calda pronta, soprar por um canudo bolas de sabão. Subiram pelo ar, atraídas pela luz rolaram, soltas, leves, felizes, grandes e pequenas bolas de sabão, como gotas ou lágrimas do arco-íris. Voaram, perderam-se pelo azul do céu... Tudo o que é bom também acaba. Mas, às vezes, acaba bem.


Por António Torrado Cristina Malaquias, 30 de Setembro de 2009

Ficção ou realidade?

Furtado do espólio de Salazar aquando da invasão dos seus antigos aposentos no dia 25 de Abril de 1974, o manuscrito “As Memórias Secretas da Rainha D. Amélia”, escrito nos últimos anos de vida e doado pela própria à Casa de Bragança, em Lisboa, através da mão do chefe do Estado Novo, foi recuperado em Sófia, na Bulgária, na Comemoração do Centenário da República, por Miguel Real, que foi incumbido de o depositar na Torre do Tombo, já o tendo feito. Neste manuscrito, a Rainha D. Amélia retrata a sua vida em doze pequenos capítulos, equivalente a um por cada mês do ano, organizados em quatro grandes partes, seguindo o ritmo das estações, da Primavera, na infância, ao Inverno triste da sua velhice. Um documento pungente, doloroso e comovente, fortemente crítico de Portugal e dos Portugueses, permanentemente iludidos pelas artimanhas de elites ineptas e ignorantes.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Os Maias


A obra-prima de Eça de Queirós e considerada por muitos o maior romance português de sempre centra-se na história da família Maia e dos amores incestuosos entre Carlos da Maia e a sua irmã Maria Eduarda. Além de uma trágica história de amor, esta é ainda uma feroz e mordaz crítica à sociedade decadente, a nível político e cultural, do final do século XIX, e ao diletantismo da alta burguesia lisboeta oitocentista, com o humor satírico e refinado tão característico do autor.

Heterónimo

Nome fictício adoptado por um autor na assinatura de uma obra, como no caso do bardo Ossian, figura literária criada pelo poeta escocês MacPherson (1736-1796), com uma personalidade própria e uma obra que o distingue do próprio criador, cujos trabalhos se dizem ortónimos (do próprio autor), por oposição. Não deve ser confundido com pseudónimo ou nome falso, distinção que o mais célebre criador de heterónimos, Fernando Pessoa, fez questão de estabelecer com rigor: "A obra pseudónima é do autor em sua pessoa, salvo no nome que assina; a heterónima é do autor fora da sua pessoa; é duma individualidade completa fabricada por ele, como seriam os dizeres de qualquer personagem de qualquer drama seu" (Tábua Bibliográfica, Presença, nº 17, ). Pessoa criou inúmeras personalidades literárias para além da sua própria, destacando-se o engenheiro futurista e decadentista Álvaro de Campos, o poeta metafísico Alberto Caeiro e o poeta clássico Ricardo Reis. A origem destes heterónimos tem sido objecto de muitas investigações, a partir do próprio testemunho de Pessoa, que, em carta a outro poeta, Adolfo Casais Monteiro, dirá: “a origem mental dos meus heterónimos está na minha tendência orgânica e constante para a despersonalização e para a simulação.” (Carta a Adolfo Casais Monteiro, 13-1-1935, publicada na revista presença, nº 49, 1937). Esta explicação psicológica reduz injustamente a natureza complexa da criação heteronímica, porque se trata tanto de um processo de desdobramento premeditado da personalidade como de um processo de criação literária de um novo autor, com nova identidade estilística, ideológica, cultural, etc. George Monteiro chama correctamente a atenção para o facto de a criação heteronímica em Pessoa ter um predecessor imediato que não deve ser ignorado. Trata-se do poeta victoriano Robert Browning, que criou um género próprio para uma outra dimensão literária em si próprio (o monólogo dramático), que se aproxima em tudo de uma criação heteronímica. “Mas Pessoa, conclui George Monteiro, foi um ponto mais além de Browning. Ele criou primeiro uma poesia em que o drama existiu entre as pessoas por ele criadas — o que elas pensaram e disseram entre si próprias — e qualquer acção para o exterior de que tenham sido capazes, e criou então depois o drama total de discípulos e, onde seja o caso, de amizade entre a sua coterie de poetas imaginários e reais.” (1990, p.285).
Um heterónimo pode ser também uma criação colectiva, por exemplo a personagem Fradique Mendes, sob cujo nome escreveram quase todos os membros do grupo do Cenáculo, como Eça de Queirós, Oliveira Martins, Batalha Reis ou Antero de Quental. Trata-se, neste caso de uma criação meramente intelectual e literária, que se aproxima da natureza de um mito. O objectivo de Eça em escrever a Correspondência de Fradique Mendes, heterónimo colectivo de um grupo de intelectuais, é não o de descrever a obra do autor Fradique (porque o autor não existe, a rigor), mas o de traçar "as feições desse transcendente espírito", portanto, analisar tudo o que difere da criação de uma figura fictícia e não propriamente do mundo criado por essa figura. Não interessa a Eça que Fradique produza uma obra, mas que seja antes o eterno potencial criador de uma obra. Assim se constróem todos os mitos, que valem por aquilo que vêm a ser potencialmente e não por aquilo que deixaram criado. Um mito faz-se mito por ter agido de forma extraordinária; nunca em mitologia se analisa o que um herói mítico criou, mas sim o que essa figura fez e suas consequências. O que interessa num mito não é o seu discurso mas a manifestação da sua força em potência. É o caso do mito Fradique Mendes. Não é por acidente que Eça se mostra mais interessado em reflectir "sobre a natureza" da obra de Fradique, o que deve significar acima de tudo que o romancista pretendia reflectir sobre as potencialidades da existência verosímil de uma obra toda ela construída nos limites da imaginação. É curioso recordar a crítica radical que Sant'Anna Dionísio dirigiu à criação ficcional de Eça nas figuras de Jacinto e Fradique: «Se há, pois, figura absurda entre as muitas figuras de tendência que Eça nos dá na sua obra, é essa, a de Fradique. A atribuição do insucesso de uma inteligência superior à carência do objecto digno de si própria é um dos parologismos mais frustes que se pode cometer ao justificar a pequenez das realizações espirituais de qualquer homem real ou possível.» ("Um parologismo do romancista: Jacinto e Fradique", in Livro do Centenário de Eça de Queirós, org. por Lúcia Miguel Pereira e Câmara Reis, Edições Dois Mundos, Lisboa e Rio de Janeiro, 1945, p.549-550). Esta crítica resulta da incompreensão entre a função literária do autor e a função das suas criações heteronímicas, que não têm que responder por nenhum padrão realista.

Carlos Ceia

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Lenda da Europa

A bela Europa (gr. Εὐρώπη), uma das paixões de Zeus, era filha de Agenor, rei da Síria (ou da Fenícia), e irmã de Cadmo, o fundador de Tebas. Na Ilíada (14.321), ela é considerada filha de Fênix, mas a primeira tradição é a mais aceita.
Para raptá-la sem chamar a atenção de Hera, sua ciumenta esposa, imaginou uma maneira sutil de se aproximar da mocinha. Certo dia, Europa e algumas amigas divertiam-se numa praia e viram sair do mar um touro belíssimo, branco, com chifres recurvados como duas luas em forma de crescente. O touro era muito manso: permitiu que se aproximassem dele, que o acariciassem e, ao perceber que Europa se aproximara, deitou-se aos seus pés.
A princesa, encorajada pela beleza e pela brandura do animal, sentou-se em seu dorso. O touro então se levantou, correu velozmente para o mar e se lançou na água. Europa, muito assustada, agarrou firmemente os chifres e ficou espantada ao ver que, ao invés de afundar, o touro corria na superfície do mar.
Tratava-se, é claro, do ardiloso Zeus... A deusa Hera, não estava por perto, aparentemente, mas o precavido pai dos deuses e dos homens preferiu não se arriscar e usou a forma de touro para se aproximar da princesa.
Fonte

Clássico

Os académicos alexandrinos propuseram pela primeira vez a designação de clássicos para os textos literários da cultura grega arcaica e criaram regras próprias para as obras contemporâneas que pudessem suportar tal categoria. Fixou-se então a ideia de clássico como obra exemplar cuja excelência é capaz de resistir ao tempo. A cultura romana garantiu a canonização da cultura grega e continuou a aceitar as melhores obras gregas antigas como clássicos. Mas primeiro estabelecera uma divisão social: classicus era o cidadão por excelência, que pertencia à primeira das cinco classes em que os Romanos se dividiam. No século II, d.C., Aulo Gélio, o primeiro a trazer o termo para a literatura, em Noctes Atticae, cunhou as seguintes expressões: o scriptor classicus, aquele que escrevia para a classe dos mais favorecidos social e politicamente e era, por isso, um escritor notável e exemplar, e o scriptor proletarius, aquele que escrevia para as classes letradas de menor condição social e era ele próprio um indivíduo das classes baixas. Gélio já introduz a ideia que ainda hoje temos de um clássico: deve ser anterior a nós e deve constituir um modelo de referência. Na Idade Média, um clássico é apenas aquele que estuda numa classe e num espaço próprio para o estudo, sem que a excelência do indivíduo ou da sua obra esteja em causa. Esta tradição já não prevalece na Idade Moderna, que consagra a ideia de clássico para as grandes obras da cultura greco-romana. A ideia do respeito pela obra dos antigos foi largamente divulgada pelos humanistas. Os seguintes versos de António Ferreira podem resumir a ideia de clássico que então se fixou: os verdadeiros homens (ou clássicos, mesmo que a palavra não seja pronunciada textualmente) são os que se “afamam / com letras, com saber, com que alumiam / o mundo, e tudo o mais Fortuna chamam” (Carta a João Rodrigues de Sá de Meneses). Este espírito de redescoberta das obras exemplares da Antiguidade levou os historiadores da literatura a falar em períodos “clássicos” não necessariamente coincidentes no tempo nas várias literaturas: por exemplo, o século XVI, para Portugal, a segunda metade do século XVIII, para a França, e a época entre Milton e Pope, em Inglaterra.
Carlos Ceia

Literatura

Por muito tempo, a palavra literatura prestou-se, no campo dos estudos literários, a um emprego universalizante, pelo qual uma de suas acepções modernas servia tranqüilamente para a designação de diversas produções verbais de todas as épocas históricas. Assim, tornaram‑se comuns expressões como "literatura antiga", "literatura greco-­romana”, "literatura medieval". Mais recentemente, contudo, a partir de um momento que acreditamos poder situar nos anos 60 do século XX, uma hipótese alternativa restringe e problematiza a extensão de sentido do termo, assinalando que o início de sua utilização coincidiria com o próprio "aparecimento da literatura". Esta, por conseguinte, não sendo uma constante através dos tempos, teria "aparecido" por volta da segunda metade do século XVIII ou mesmo início do XIX, sincronizada com o surgimento da própria palavra literatura, especialmente então inventada para designar aquele novo tipo de discurso (cf., entre outras, como expressões dessa posição: Foucault, s. d. [1966], p. 392‑3; Roland Barthes. A retórica antiga. In: Jean Cohen et alii. Pesquisas de retórica. Petrópolis [Rio de Janeiro]: 1975 [1970]. p. 156 e 161). É possível, portanto, admitir dois encaminhamentos básicos a propósito do conceito correspondente ao termo literatura. A orientação tradicional se fundamenta na hipótese realista de que os “fatos literários" existem independentemente do vocábulo literatura, o que permitiria, por exemplo, falar‑se em "literatura grega antiga", mesmo sabendo‑se que tal modo de dizer constitui solução léxica recente, não sendo, portanto, contemporâneo do produto que designa. Uma segunda orientação, por seu turno, se baseia na hipótese nominalista de que, sendo o termo literatura de “fresca data" (cf. Foucault, op. cit., p. 393), também os "fatos literários" o seriam, razão por que expressões como "literatura grega antiga", mais do que anacronismos, encerrariam verdadeiros nonsenses ontológicos.
Roberto Acízelo de Souza

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Poema

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Novidades

Em Córdova, na Andaluzia, numa pequena praça do bairro da Judiaria, o turista ainda hoje pode ver o busto em bronze de uma personagem de rosto emaciado e olhar de águia: a inscrição diz-nos que se trata de Moisés Maimónides, médico judeu nascido em 1135 nessa cidade, na época em que ela atingira o seu apogeu. Ali viviam em harmonia árabes, cristãos e judeus, oferecendo ao mundo um modelo nunca mais igualado de civilização e tolerância. Aos doze anos, o jovem Moisés Maimónides tornar-se-ia discípulo do grande pensador árabe Averróis, antes de se apaixonar pelo estudo de medicina. Aquele a quem os escolásticos cristãos dariam o nome de «Águia da Sinagoga» por ter tentado, antes de Tomás de Aquino, conciliar a Bíblia e Aristóteles, foi forçado ao exílio devido ao fanatismo dos novos conquistadores árabes.



Quem observasse o Brasil em 1822 teria razões de sobra para duvidar da sua viabilidade como nação independente e soberana. De cada três brasileiros, dois eram escravos, negros forros, mulatos, índios ou mestiços. Era uma população pobre e carente de tudo, que vivia à margem de qualquer oportunidade numa economia agrária e rudimentar, dominada pelo latifúndio e pelo tráfico negreiro. O medo de uma rebelião dos cativos tirava o sono da minoria branca.
O analfabetismo era geral. De cada dez pessoas, só uma sabia ler e escrever. Os ricos eram poucos e, com raras exceções, ignorantes. O isolamento e as rivalidades entre as diversas províncias prenunciavam uma guerra civil, que poderia resultar na fragmentação territorial, a exemplo do que já ocorria nas colónias espanholas vizinhas. Para piorar a situação, ao voltar para Portugal, no ano anterior, o rei D João VI, havia raspado os cofres nacionais. O novo país nascia falido. Faltavam dinheiro, soldados, navios, armas ou munição para sustentar uma guerra contra os portugueses, que se anunciava longa e sangrenta. As perspectivas de fracasso, portanto, pareciam bem maiores do que as de sucesso.
Nesta nova obra, o escritor brasileiro Laurentino Gomes, autor do best-seller 1808, sobre a fuga da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, mostra como o Brasil, que tinha tudo para não dar certo, acabaria por resultar, em 1822, numa notável combinação de sorte, improviso, acasos e também de sabedoria das lideranças responsáveis pela condução dos destinos do novo país naquele momento de grandes sonhos e muitos perigos.

domingo, 26 de setembro de 2010

Poema

Voz de Outono

Ouve tu, meu cansado coração,
O que te diz a voz da Natureza:
— «Mais te valera, nú e sem defesa,
Ter nascido em aspérrima solidão,

Ter gemido, ainda infante, sobre o chão
Frio e cruel da mais cruel deveza,
Do que embalar-te a Fada da Beleza,
Como embalou, no berço da Ilusão!

Mais valera à tua alma visionária
Silenciosa e triste ter passado
Por entre o mundo hostil e a turba vária,

(Sem ver uma só flor, das mil, que amaste)
Com ódio e raiva e dor... que ter sonhado
Os sonhos ideais que tu sonhaste!»

Antero de Quental, in "Sonetos"

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Para sempre ...


«Um romance histórico inovador. Personagem principal, o Convento de Mafra. O escritor aparta-se da descrição engessada, privilegiando a caracterização de uma época. Segue o estilo: "Era uma vez um rei que fez promessas de levantar um convento em Mafra... Era uma vez a gente que construiu esse convento... Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes... Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido". Tudo, "era uma vez...". Logo a começar por "D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa a até hoje ainda não emprenhou (...). Depois, a sobressair, essa espantosa personagem, Blimunda, ao encontro de Baltasar. Milhares de léguas andou Blimundo, e o romance correu mundo, na escrita e na ópera (numa adaptação do compositor italiano Azio Corghi). Para a nossa memória ficam essas duas personagens inesquecíveis, um Sete Sóis e o outro Sete Luas, a passearem o seu amor pelo Portugal violento e inquisitorial dos tristes tempos do rei D. João V.»

Gostava de o ler


"A Sombra do Vento" é um mistério literário passado na Barcelona da primeira metade do século XX, desde os últimos esplendores do Modernismo até às trevas do pós-guerra. Um inesquecível relato sobre os segredos do coração e o feitiço dos livros, num crescendo de suspense que se mantém até à última página.
Numa manhã de 1945, um rapaz é conduzido pelo pai a um lugar misterioso, oculto no coração da cidade velha: O Cemitério dos Livros Esquecidos. Aí, Daniel Sempere encontra um livro maldito que muda o rumo da sua vida e o arrasta para um labirinto de intrigas e segredos enterrados na alma obscura de Barcelona. Juntando as técnicas do relato de intriga e suspense, o romance histórico e a comédia de costumes, "A Sombra do Vento" é sobretudo uma trágica história de amor cujo eco se projecta através do tempo.