quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Os Maias


A obra-prima de Eça de Queirós e considerada por muitos o maior romance português de sempre centra-se na história da família Maia e dos amores incestuosos entre Carlos da Maia e a sua irmã Maria Eduarda. Além de uma trágica história de amor, esta é ainda uma feroz e mordaz crítica à sociedade decadente, a nível político e cultural, do final do século XIX, e ao diletantismo da alta burguesia lisboeta oitocentista, com o humor satírico e refinado tão característico do autor.

Heterónimo

Nome fictício adoptado por um autor na assinatura de uma obra, como no caso do bardo Ossian, figura literária criada pelo poeta escocês MacPherson (1736-1796), com uma personalidade própria e uma obra que o distingue do próprio criador, cujos trabalhos se dizem ortónimos (do próprio autor), por oposição. Não deve ser confundido com pseudónimo ou nome falso, distinção que o mais célebre criador de heterónimos, Fernando Pessoa, fez questão de estabelecer com rigor: "A obra pseudónima é do autor em sua pessoa, salvo no nome que assina; a heterónima é do autor fora da sua pessoa; é duma individualidade completa fabricada por ele, como seriam os dizeres de qualquer personagem de qualquer drama seu" (Tábua Bibliográfica, Presença, nº 17, ). Pessoa criou inúmeras personalidades literárias para além da sua própria, destacando-se o engenheiro futurista e decadentista Álvaro de Campos, o poeta metafísico Alberto Caeiro e o poeta clássico Ricardo Reis. A origem destes heterónimos tem sido objecto de muitas investigações, a partir do próprio testemunho de Pessoa, que, em carta a outro poeta, Adolfo Casais Monteiro, dirá: “a origem mental dos meus heterónimos está na minha tendência orgânica e constante para a despersonalização e para a simulação.” (Carta a Adolfo Casais Monteiro, 13-1-1935, publicada na revista presença, nº 49, 1937). Esta explicação psicológica reduz injustamente a natureza complexa da criação heteronímica, porque se trata tanto de um processo de desdobramento premeditado da personalidade como de um processo de criação literária de um novo autor, com nova identidade estilística, ideológica, cultural, etc. George Monteiro chama correctamente a atenção para o facto de a criação heteronímica em Pessoa ter um predecessor imediato que não deve ser ignorado. Trata-se do poeta victoriano Robert Browning, que criou um género próprio para uma outra dimensão literária em si próprio (o monólogo dramático), que se aproxima em tudo de uma criação heteronímica. “Mas Pessoa, conclui George Monteiro, foi um ponto mais além de Browning. Ele criou primeiro uma poesia em que o drama existiu entre as pessoas por ele criadas — o que elas pensaram e disseram entre si próprias — e qualquer acção para o exterior de que tenham sido capazes, e criou então depois o drama total de discípulos e, onde seja o caso, de amizade entre a sua coterie de poetas imaginários e reais.” (1990, p.285).
Um heterónimo pode ser também uma criação colectiva, por exemplo a personagem Fradique Mendes, sob cujo nome escreveram quase todos os membros do grupo do Cenáculo, como Eça de Queirós, Oliveira Martins, Batalha Reis ou Antero de Quental. Trata-se, neste caso de uma criação meramente intelectual e literária, que se aproxima da natureza de um mito. O objectivo de Eça em escrever a Correspondência de Fradique Mendes, heterónimo colectivo de um grupo de intelectuais, é não o de descrever a obra do autor Fradique (porque o autor não existe, a rigor), mas o de traçar "as feições desse transcendente espírito", portanto, analisar tudo o que difere da criação de uma figura fictícia e não propriamente do mundo criado por essa figura. Não interessa a Eça que Fradique produza uma obra, mas que seja antes o eterno potencial criador de uma obra. Assim se constróem todos os mitos, que valem por aquilo que vêm a ser potencialmente e não por aquilo que deixaram criado. Um mito faz-se mito por ter agido de forma extraordinária; nunca em mitologia se analisa o que um herói mítico criou, mas sim o que essa figura fez e suas consequências. O que interessa num mito não é o seu discurso mas a manifestação da sua força em potência. É o caso do mito Fradique Mendes. Não é por acidente que Eça se mostra mais interessado em reflectir "sobre a natureza" da obra de Fradique, o que deve significar acima de tudo que o romancista pretendia reflectir sobre as potencialidades da existência verosímil de uma obra toda ela construída nos limites da imaginação. É curioso recordar a crítica radical que Sant'Anna Dionísio dirigiu à criação ficcional de Eça nas figuras de Jacinto e Fradique: «Se há, pois, figura absurda entre as muitas figuras de tendência que Eça nos dá na sua obra, é essa, a de Fradique. A atribuição do insucesso de uma inteligência superior à carência do objecto digno de si própria é um dos parologismos mais frustes que se pode cometer ao justificar a pequenez das realizações espirituais de qualquer homem real ou possível.» ("Um parologismo do romancista: Jacinto e Fradique", in Livro do Centenário de Eça de Queirós, org. por Lúcia Miguel Pereira e Câmara Reis, Edições Dois Mundos, Lisboa e Rio de Janeiro, 1945, p.549-550). Esta crítica resulta da incompreensão entre a função literária do autor e a função das suas criações heteronímicas, que não têm que responder por nenhum padrão realista.

Carlos Ceia

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Lenda da Europa

A bela Europa (gr. Εὐρώπη), uma das paixões de Zeus, era filha de Agenor, rei da Síria (ou da Fenícia), e irmã de Cadmo, o fundador de Tebas. Na Ilíada (14.321), ela é considerada filha de Fênix, mas a primeira tradição é a mais aceita.
Para raptá-la sem chamar a atenção de Hera, sua ciumenta esposa, imaginou uma maneira sutil de se aproximar da mocinha. Certo dia, Europa e algumas amigas divertiam-se numa praia e viram sair do mar um touro belíssimo, branco, com chifres recurvados como duas luas em forma de crescente. O touro era muito manso: permitiu que se aproximassem dele, que o acariciassem e, ao perceber que Europa se aproximara, deitou-se aos seus pés.
A princesa, encorajada pela beleza e pela brandura do animal, sentou-se em seu dorso. O touro então se levantou, correu velozmente para o mar e se lançou na água. Europa, muito assustada, agarrou firmemente os chifres e ficou espantada ao ver que, ao invés de afundar, o touro corria na superfície do mar.
Tratava-se, é claro, do ardiloso Zeus... A deusa Hera, não estava por perto, aparentemente, mas o precavido pai dos deuses e dos homens preferiu não se arriscar e usou a forma de touro para se aproximar da princesa.
Fonte

Clássico

Os académicos alexandrinos propuseram pela primeira vez a designação de clássicos para os textos literários da cultura grega arcaica e criaram regras próprias para as obras contemporâneas que pudessem suportar tal categoria. Fixou-se então a ideia de clássico como obra exemplar cuja excelência é capaz de resistir ao tempo. A cultura romana garantiu a canonização da cultura grega e continuou a aceitar as melhores obras gregas antigas como clássicos. Mas primeiro estabelecera uma divisão social: classicus era o cidadão por excelência, que pertencia à primeira das cinco classes em que os Romanos se dividiam. No século II, d.C., Aulo Gélio, o primeiro a trazer o termo para a literatura, em Noctes Atticae, cunhou as seguintes expressões: o scriptor classicus, aquele que escrevia para a classe dos mais favorecidos social e politicamente e era, por isso, um escritor notável e exemplar, e o scriptor proletarius, aquele que escrevia para as classes letradas de menor condição social e era ele próprio um indivíduo das classes baixas. Gélio já introduz a ideia que ainda hoje temos de um clássico: deve ser anterior a nós e deve constituir um modelo de referência. Na Idade Média, um clássico é apenas aquele que estuda numa classe e num espaço próprio para o estudo, sem que a excelência do indivíduo ou da sua obra esteja em causa. Esta tradição já não prevalece na Idade Moderna, que consagra a ideia de clássico para as grandes obras da cultura greco-romana. A ideia do respeito pela obra dos antigos foi largamente divulgada pelos humanistas. Os seguintes versos de António Ferreira podem resumir a ideia de clássico que então se fixou: os verdadeiros homens (ou clássicos, mesmo que a palavra não seja pronunciada textualmente) são os que se “afamam / com letras, com saber, com que alumiam / o mundo, e tudo o mais Fortuna chamam” (Carta a João Rodrigues de Sá de Meneses). Este espírito de redescoberta das obras exemplares da Antiguidade levou os historiadores da literatura a falar em períodos “clássicos” não necessariamente coincidentes no tempo nas várias literaturas: por exemplo, o século XVI, para Portugal, a segunda metade do século XVIII, para a França, e a época entre Milton e Pope, em Inglaterra.
Carlos Ceia

Literatura

Por muito tempo, a palavra literatura prestou-se, no campo dos estudos literários, a um emprego universalizante, pelo qual uma de suas acepções modernas servia tranqüilamente para a designação de diversas produções verbais de todas as épocas históricas. Assim, tornaram‑se comuns expressões como "literatura antiga", "literatura greco-­romana”, "literatura medieval". Mais recentemente, contudo, a partir de um momento que acreditamos poder situar nos anos 60 do século XX, uma hipótese alternativa restringe e problematiza a extensão de sentido do termo, assinalando que o início de sua utilização coincidiria com o próprio "aparecimento da literatura". Esta, por conseguinte, não sendo uma constante através dos tempos, teria "aparecido" por volta da segunda metade do século XVIII ou mesmo início do XIX, sincronizada com o surgimento da própria palavra literatura, especialmente então inventada para designar aquele novo tipo de discurso (cf., entre outras, como expressões dessa posição: Foucault, s. d. [1966], p. 392‑3; Roland Barthes. A retórica antiga. In: Jean Cohen et alii. Pesquisas de retórica. Petrópolis [Rio de Janeiro]: 1975 [1970]. p. 156 e 161). É possível, portanto, admitir dois encaminhamentos básicos a propósito do conceito correspondente ao termo literatura. A orientação tradicional se fundamenta na hipótese realista de que os “fatos literários" existem independentemente do vocábulo literatura, o que permitiria, por exemplo, falar‑se em "literatura grega antiga", mesmo sabendo‑se que tal modo de dizer constitui solução léxica recente, não sendo, portanto, contemporâneo do produto que designa. Uma segunda orientação, por seu turno, se baseia na hipótese nominalista de que, sendo o termo literatura de “fresca data" (cf. Foucault, op. cit., p. 393), também os "fatos literários" o seriam, razão por que expressões como "literatura grega antiga", mais do que anacronismos, encerrariam verdadeiros nonsenses ontológicos.
Roberto Acízelo de Souza

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Poema

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Novidades

Em Córdova, na Andaluzia, numa pequena praça do bairro da Judiaria, o turista ainda hoje pode ver o busto em bronze de uma personagem de rosto emaciado e olhar de águia: a inscrição diz-nos que se trata de Moisés Maimónides, médico judeu nascido em 1135 nessa cidade, na época em que ela atingira o seu apogeu. Ali viviam em harmonia árabes, cristãos e judeus, oferecendo ao mundo um modelo nunca mais igualado de civilização e tolerância. Aos doze anos, o jovem Moisés Maimónides tornar-se-ia discípulo do grande pensador árabe Averróis, antes de se apaixonar pelo estudo de medicina. Aquele a quem os escolásticos cristãos dariam o nome de «Águia da Sinagoga» por ter tentado, antes de Tomás de Aquino, conciliar a Bíblia e Aristóteles, foi forçado ao exílio devido ao fanatismo dos novos conquistadores árabes.



Quem observasse o Brasil em 1822 teria razões de sobra para duvidar da sua viabilidade como nação independente e soberana. De cada três brasileiros, dois eram escravos, negros forros, mulatos, índios ou mestiços. Era uma população pobre e carente de tudo, que vivia à margem de qualquer oportunidade numa economia agrária e rudimentar, dominada pelo latifúndio e pelo tráfico negreiro. O medo de uma rebelião dos cativos tirava o sono da minoria branca.
O analfabetismo era geral. De cada dez pessoas, só uma sabia ler e escrever. Os ricos eram poucos e, com raras exceções, ignorantes. O isolamento e as rivalidades entre as diversas províncias prenunciavam uma guerra civil, que poderia resultar na fragmentação territorial, a exemplo do que já ocorria nas colónias espanholas vizinhas. Para piorar a situação, ao voltar para Portugal, no ano anterior, o rei D João VI, havia raspado os cofres nacionais. O novo país nascia falido. Faltavam dinheiro, soldados, navios, armas ou munição para sustentar uma guerra contra os portugueses, que se anunciava longa e sangrenta. As perspectivas de fracasso, portanto, pareciam bem maiores do que as de sucesso.
Nesta nova obra, o escritor brasileiro Laurentino Gomes, autor do best-seller 1808, sobre a fuga da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, mostra como o Brasil, que tinha tudo para não dar certo, acabaria por resultar, em 1822, numa notável combinação de sorte, improviso, acasos e também de sabedoria das lideranças responsáveis pela condução dos destinos do novo país naquele momento de grandes sonhos e muitos perigos.

domingo, 26 de setembro de 2010

Poema

Voz de Outono

Ouve tu, meu cansado coração,
O que te diz a voz da Natureza:
— «Mais te valera, nú e sem defesa,
Ter nascido em aspérrima solidão,

Ter gemido, ainda infante, sobre o chão
Frio e cruel da mais cruel deveza,
Do que embalar-te a Fada da Beleza,
Como embalou, no berço da Ilusão!

Mais valera à tua alma visionária
Silenciosa e triste ter passado
Por entre o mundo hostil e a turba vária,

(Sem ver uma só flor, das mil, que amaste)
Com ódio e raiva e dor... que ter sonhado
Os sonhos ideais que tu sonhaste!»

Antero de Quental, in "Sonetos"

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Para sempre ...


«Um romance histórico inovador. Personagem principal, o Convento de Mafra. O escritor aparta-se da descrição engessada, privilegiando a caracterização de uma época. Segue o estilo: "Era uma vez um rei que fez promessas de levantar um convento em Mafra... Era uma vez a gente que construiu esse convento... Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes... Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido". Tudo, "era uma vez...". Logo a começar por "D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa a até hoje ainda não emprenhou (...). Depois, a sobressair, essa espantosa personagem, Blimunda, ao encontro de Baltasar. Milhares de léguas andou Blimundo, e o romance correu mundo, na escrita e na ópera (numa adaptação do compositor italiano Azio Corghi). Para a nossa memória ficam essas duas personagens inesquecíveis, um Sete Sóis e o outro Sete Luas, a passearem o seu amor pelo Portugal violento e inquisitorial dos tristes tempos do rei D. João V.»

Gostava de o ler


"A Sombra do Vento" é um mistério literário passado na Barcelona da primeira metade do século XX, desde os últimos esplendores do Modernismo até às trevas do pós-guerra. Um inesquecível relato sobre os segredos do coração e o feitiço dos livros, num crescendo de suspense que se mantém até à última página.
Numa manhã de 1945, um rapaz é conduzido pelo pai a um lugar misterioso, oculto no coração da cidade velha: O Cemitério dos Livros Esquecidos. Aí, Daniel Sempere encontra um livro maldito que muda o rumo da sua vida e o arrasta para um labirinto de intrigas e segredos enterrados na alma obscura de Barcelona. Juntando as técnicas do relato de intriga e suspense, o romance histórico e a comédia de costumes, "A Sombra do Vento" é sobretudo uma trágica história de amor cujo eco se projecta através do tempo.

Novidades


Como é que o cérebro constrói a mente? E como é que o cérebro torna essa mente consciente? Qual a estrutura necessária ao cérebro humano e qual a forma como tem de funcionar para que surjam mentes conscientes?

Há mais de trinta anos que o neurocientista António Damásio estuda a mente e o cérebro humanos e é autor de vasta obra publicada em livros e artigos científicos. No entanto, formulou o presente livro como um recomeço, quando a reflexão sobre descobertas importantes da investigação, recentes e antigas, alterou profundamente o seu ponto de vista em duas questões particulares: a origem e a natureza dos sentimentos, e os mecanismos por detrás do eu.
O Livro da Consciência constitui assim um debate sobre as noções actuais nestes domínios, e uma proposta de novos mecanismos para a construção dos sentimentos e da consciência. Uma obra magistral que deixa entrever aquilo que ainda não sabemos sobre o cérebro e a consciência, mas gostaríamos muito de saber, e que estabelece uma ponte entre a biologia e a cultura.

Um homem… uma escolha… um dia para desaparecer…
Numa tarde de Maio, em Londres, depois de um encontro fortuito e de uma decisão apressada, o jovem climatologista Adam Kindred perde tudo – a casa, o emprego, a reputação, o passaporte, os cartões de crédito, o telemóvel – para nunca mais os recuperar. Adam não tem escolha pois estava à hora errada, no local errado. Perseguido pela polícia e por um homem impiedoso, decide esconder-se, juntando-se às fileiras de desaparecidos que se amontoam no submundo de Londres.
No seguimento de Inquietude, vencedor do Costa Award para melhor romance de 2006, esta é uma narrativa emocionante sobre a fraqueza da identidade social, a corrupção no âmago das grandes empresas e os segredos que permanecem escondidos nas profundezas de todas as cidades.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Inauguração


Convido-vos a tomar este chá para celebrar a abertura do meu novo espaço.

Não sei muito de informática mas vou sempre aprendendo mais e mais por isso me meto nestas aventuras.

Literatura em português


Um rapazinho é deixado pela mãe num fontanário, de madrugada. Antes de partir, ela entrega-lhe um livro e promete que voltará dentro de algumas horas. Mas abandona-o e vai para França, trilhando os caminhos da emigração.
Acolhido por uma família da aldeia, e sem nunca mais saber da mãe, o rapaz vai crescer enamorado por uma rapariga da terra que o corresponde nos sentimentos. Chegados à idade adulta, decidem ambos emigrar para França, mas partem separados.
O livro — único objecto de valor que o rapaz possuiu em toda a sua vida — servirá para os manter ligados e é através dele que se vão reencontrar.

Um pouco de História


Como uma sociedade secreta mudou o destino de um País
No ano em que se comemora o centenário da implantação da República em Portugal, torna-se quase obrigatório tentar compreender as circunstâncias que permitiram que essa eclosão se verificasse numa Europa de monarquias. O que terá acontecido para que o «doce» e «pacato» Portugal, no primeiro decénio do século XX, fosse extremando posições chegando ao ponto de, por via revolucionária, depor a monarquia da Casa de Bragança?Neste livro, dirigido ao grande público, os autores esboçam o quadro de referência geral que possibilita compreender a emergência do regime e das instituições republicanas. Além de um enquadramento histórico, estrutural e longo, não circunscrito exclusivamente a Portugal, Pedro Brandão e António Chaves Fidalgo descrevem a acção da Maçonaria e as suas relações, quer com a Carbonária, quer com o Directório do Partido Republicano, na coordenação do movimento insurreccional que começa na madrugada de três de Outubro e termina na manhã de cinco de 1910.

Ler


Gosto de ler neste cantinho enquanto ouço uma música suave.

Interessante e actual


O Pequeno Ditador
JAVIER URRA


Este ainda não li mas conheço bem o assunto a que se refere.

Da criança mimada ao adolescente agressivo
São várias as histórias que nos falam de violência na escola, vemos notícias de professores que não conseguem controlar alunos indisciplinados, de crianças que humilham e maltratam os seus colegas. Mas há uma nova realidade, invisível, fechada entre quatro paredes que é fundamental enfrentar: os pais são vítimas da violência dos filhos dentro das suas próprias casas.
Actualmente existem casos de filhos que batem nos pais. Crianças mimadas, sem limites, a quem tudo se consente, que organizam a vida familiar, dão ordens aos pais, chantageiam quem as tenta controlar. Crianças que se tornam jovens agressivos, que enganam, ridicularizam os maiores, que não hesitam em roubar a carteira da mãe. Adolescentes que desenvolvem condutas violentas e marginais. Em suma, filhos que impõem a sua própria lei.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um dos preferidos


Este é talvez o livro que li mais vezes. Se tivesse tempo voltaria a fazê-lo outras tantas e não me cansaria.

No passado ano lectivo usei uma das suas crónicas para um trabalho que deixo aqui.



Sequência textual Prototípica

As características gerais dos textos possibilitam a criação de protótipos textuais que nos permitem distinguir os diversos tipos de textos: narrativo, descritivo, argumentativo, expositivo-explicativo, injuntivo-instrucional e dialogal-conversacional.
É a partir destes protótipos textuais, organizados de forma sequencial tendo em conta a intenção do autor e o objectivo que pretende alcançar junto dos seus leitores, que se organizam os textos. Na perspectiva de Jean-Michel Adam (cit. por Coutinho, 2003), “os tipos de texto correspondem de forma explícita, a tipos de sequências” (61). Pondo “em destaque a complexidade do objecto textual” (74) refere que “a sequência é formada por macroproposições, constituídas, por sua vez, por n proposições; trata-se, pois, de uma unidade composicional, constituinte do texto, entendido ele próprio, como uma estrutura hierárquica composta de sequências.” (140) A formulação de Adam já havia sido apresentada por Van Dijk de quem interessa destacar:
§ Que a noção de sequência, indissociável da de macroestrutura, corresponde a uma estrutura hierárquica que organiza a informação;
§ Que é possível falar de sequência como unidade e como texto. (Coutinho, 2003).
Sequências textuais prototípicas definem-se como abstracções formuladas a partir de um conjunto de características formais relativas ao modo como as frases se organizam em textos.

O texto escolhido para ilustrar o trabalho, Períodos de céu muito nublado, é uma crónica de Miguel Sousa Tavares e foi retirada do livro Não te deixarei morrer David Crockett, do mesmo autor (2001). Derivado do latim Chronica e do grego Khrónos a crónica, inicialmente, tinha como fim registar acontecimentos históricos e a sua ordem cronológica. No século XIX, com o desenvolvimento da imprensa periódica, a crónica especializa-se e, com o contributo dos homens de letras, passa a situar-se entre o jornalismo e a literatura. Miguel Sousa Tavares é um escritor, jornalista, cuja escrita me atrai particularmente, contrariamente à sua figura e à sua personalidade visível. Gosto da sensibilidade da sua escrita e da forma como traduz os sentimentos e as emoções.
Períodos de céu muito nublado é fundamentalmente uma sequência narrativa interrompida por uma sequência descritiva, no segundo parágrafo, e por uma sequência argumentativa, no quarto parágrafo, onde o autor expõe sentimentos e interpela o leitor levando-o a reflectir sobre os prós e os contras da necessidade de estar só.
Na sequência narrativa, (no primeiro, terceiro e quinto parágrafos) verificamos marcas da acção do sujeito: “eu virei à esquerda …Procurei em vão…Cheguei à sua margem…e lembrei-me do que há muito tempo atrás lera”, e ainda, “a unidade temática assegurada pelo sujeito que protagoniza” a narrativa, assim como o“ desenrolar de um conjunto de eventos que se sucedem no tempo” (Silva, 2005).
Sequência descritiva (2º parágrafo): aqui o autor dá-nos um retrato do espaço que descreve como a “Piazza Navone…onde o sol desaparece nas tardes de Abril… Roma era translúcida sob a luz da Primavera” e também do seu estado de espírito “fascinado”pelo “movimento dos dedos das mãos da minha mãe”.
No âmbito da tradição retórica, a descrição era conotada como elemento ornamental, integrado no discurso narrativo. Hamon, Adam e Petitjean, nos seus trabalhos em Semiótica Narrativa e Linguística Textual, reabilitaram o valor do texto descritivo.
Na sequência argumentativa, demonstrada no quarto parágrafo, temos o par argumento/conclusão, “ através do qual o locutor apresenta razões ou provas de modo a que o interlocutor aceite aquilo que ele defende” (Pereira, 2009): “Não há nenhum viajante solitário que não sonhe com uma Penélope à sua espera”.
Miguel Sousa Tavares, em jeito de introdução, explica a escolha do título do livro “o David Crockett representava sim a minha infância, a minha crença de criança numa vida de aventuras, de descobertas, de riscos e de encontros” e também o que o levou à selecção das crónicas nele reunidas: a “ procura continuada de uma fidelidade à memória, que é, para mim, um mandamento de vida”.

Um pouco de tudo

Na minha biblioteca há um pouquinho de tudo. Arte, poesia, literatura infantil, romances, etc. etc. etc.


Ilustração


São fabulosas as ilustrações da Joana Quental nesta colecção de delicadas histórias para crianças. Comprei há uns anos e são histórias escritas por pessoas de diferentes áreas artísticas.

Recepção à comunidade educativa


A Câmara Municipal de Almada faz, todos os anos, um interessante programa de recepção à comunidade educativa com abertura solene em espaços emblemáticos da autarquia. Ultimamente têm ocorrido nos novos espaços escolares recentemente inaugurados.Há programas para todos os gostos e todas as idades de todos os intervenientes do processo educativo. Todos, menos os funcionários não docentes das escolas. É que costuma haver presentes e assim fica mais barato. Deve ser por isso. Só pode...

Um dia, há cerca de três anos, quando conduzia a caminho do trabalho, ouvi, na rádio, alguém a falar sobre este livro. Fiquei tão fascinada que assim que tive oportunidade fui comprá-lo. Faz parte do grande grupo que está para ser relido... Adorei.

Há uma praia sonhada e real, e um mar infinitamente azul. Há uma esplanada ensolarada por onde se derrama, lânguida, a imensidão dos entardeceres. E há o sonho. Os sonhos de todas aquelas personagens que se cruzam, e se encontram, e sonham…
O velho pescador que pinta girassóis na proa do seu barco e sonha partir um dia, de velas enfunadas, para se perder na linha do horizonte. O jovem casal de amantes que sonha viver a sua paixão ao sabor da maresia e do vento morno de cada fim de tarde. O pároco local que se embrenha em escavações clandestinas, que sonha com uma beleza perdida e por mão de quem haverá de chegar um dia, e sem aviso prévio, a tragédia que irá abalar a pacata vila de Santo António da Ria. Há o destino, a bruma, o mistério. E o livro, quase tão azul como as próprias ondas, também ele infinito, revelador e inesquecível.

Império à deriva


Uma interessante reflexão sobre as consequências para Portugal, a longo prazo, da ausência do rei durante treze anos.
A Corte Portuguesa no Rio de Janeiro 1808-1821
Em 1807, na iminência da invasão francesa, D. João tomou a decisão de fugir de Portugal pela única saída possível: o mar. Rumou ao Brasil e a bordo das naus levou 10 000 aristocratas, ministros, padres, criados, militares, a carruagem real, um piano e toneladas de livros e documentos. Ao fim de uma difícil viagem de dois meses, a corte portuguesa chegou ao Brasil imunda, esfarrapada e cheia de piolhos.
O Rio de Janeiro transformou-se rapidamente na “Versailles tropical”, construiu-se uma ópera, um jardim botânico e o paço real, tudo isto com vegetação exuberante como pano de fundo. Esta nova capital imperial era o maior porto de escravos das Américas, sendo este comércio a base da economia do país. No entanto, quando em 1888 a Princesa Regente, D. Isabel, aboliu a escravatura, não sabia que tinha acabado de dar o primeiro passo para a abolição da monarquia. Este é um livro recheado de personagens reais e inéditas: a rainha D. Maria, louca e deprimida, D. João, obeso e indeciso, D. Carlota, que detestava o marido e o Brasil, e D. Pedro, mulherengo irreverente, que proclamou a independência do Brasil.

A minha biblioteca











Fascinante


Ovídio conta histórias de transfiguração, de 'metamorfose' de deuses e de homens, em fontes, árvores, rios, pedras, animais num universo abertamente ficcional. (Con)fundindo deliberadamente ficção e realidade, Ovídio leva o leitor a perder-se neste mundo imaginário, e mascara de verosimilhança as suas histórias, que se vão sucedendo de forma contínua, sem quaisquer comentários moralistas ou reflexões teóricas sobre o sentido das 'metamorfoses'. Narciso, Eco, Aracne, Midas, Ariadne, Orfeu e Eurídice, Pigmalião, Píramo e Tisbe, Dédalo e Ícaro… Nos versos de Metamorfoses construiu-se um dos mais deslumbrantes universos ficcionais da cultura ocidental.
Pela primeira vez, em versão integral em português, as Metamorfoses foram traduzidas por Paulo Farmhouse Alberto, respeitando fielmente o fluir natural do texto original, e incluem notas, glossário e mapas, para que o leitor desfrute ao máximo da obra de Ovídio.
Ficha detalhada: "Metamorfoses" de Ovídio

Este é a seguir


Tradução e ensaio de João Barrento; Escolha de Imagens de Lourdes Castro
No centro da História Fabulosa de Peter Schlemihl está o dilema em que o autor coloca o seu anti-herói: somos quem, ou o quê? Corpo ou sombra? Eu ou outro? Presente ou memória? Matéria ou alma?Chamisso resolve o dilema em favor de uma incógnita — a alma que Schlemihl quer preservar —, prescindindo de uma matéria socialmente útil que tem sido também uma mais valia esté- -tica — a sombra. Outros, poetas e artistas do nosso tempo, associarão à sombra um sentido de verdade (Paul Celan: «Fala verdade quem diz sombra»). E nesse diáfano livro de sombras que é o «Grand Herbier d’Ombres» de Lourdes Castro, já muito longe de Chamisso, mas ainda sob o fascínio da sua história, as sombras pedem para ser lidas como tal — nem o real, nem a sua representação recortada, mas um terceiro nível do visível, um vulnerável jardim do acaso.- João Barrento

Irresistível


O novo livro de Miguel Sousa Tavares. A amizade (improvável) entre um músico famoso e um coelho muito especial.

Ilustradora: Fernanda Fragateiro
«Os homens são estranhos, Ismael. Nem sempre escolhem o que mais gostam, aquilo que os faz ser felizes.»
Ismael é um coelho bravo que vive no bosque. Dos seus 51 irmãos, foi ele o escolhido pelo pai, o respeitado Coelho Maltese, para ficar junto de si e aprender tudo o que ele tinha para ensinar: todos os segredos do bosque, todos os segredos do mundo. A Ismael, o pai aconselha-o, entre outras coisas, a ter cuidado com os homens, esses bichos inteligentes que escrevem a língua que falam. Mal sabe Coelho Maltese que a abertura ao mundo o levará a conhecer a música e, sobretudo, a figura memorável de um jovem músico chamado Chopin.
Já doente, Chopin refugiou-se numa casa meio abandonada, e passa os dias a tossir; quando chega a noite, senta-se ao piano e toca. Aos poucos, atraído pela música grandiosa, Ismael perde a timidez inicial e, cheio de cautelas, vai-se aventurando. Ao ser descoberto, e directamente interpelado pelo genial pianista, o coelhinho bravo descai-se e revela o seu dom, apesar de ter prometido ao pai que nunca o faria. Sim, porque Ismael tem um dom: consegue entender a língua humana e, mais, fazer-se entender através da nossa linguagem de homens.
O que poderá resultar de tão singular e tocante relacionamento?

Acabei ontem


Um advogado londrino investiga a estranha ligação entre o seu velho amigo, o conceituado Dr. Jekyll, e o perturbante e duvidoso Mr. Hyde.
O comportamento do Dr. Jekyll começa a preocupar os seus empregados e amigos, tanto mais que este, cada vez mais isolado no seu laboratório, recebe frequentemente o intrigante e violento Mr. Hyde.
Temendo pela vida do amigo, o advogado resolve tirar a limpo a história e vai à residência do médico para procurar a explicação para tão bizarro comportamento.
No surpreendente final, o Dr. Jekyll revela que ele e Mr. Hyde são um só, em resultado de uma experiência realizada no seu laboratório. Ao tomar a fórmula, a sua personalidade dividiu-se, ora tomando a forma do amável médico ora a do temível Mr. Hyde.

Terminei ontem a leitura deste interessante livro que faz parte da bibliografia que devo ler neste ano lectivo. Como há muito que ler não posso atrasar-me.

Última aquisição



Em O Ensino do Português salienta-se a existência de uma certa pedagogia encarada como inovadora, mas que, na verdade, se baseia na aplicação de teorias da educação ultrapassadas. Instalada oficialmente no Ensino, desde 2003, reflectiu-se nos curricula, fomentando de forma leviana a rivalidade entre «velho» (o que não é bem-vindo e não tem carácter lúdico) e «novo» (o que é privilegiado por ser recreativo), com a consequente alteração de vocabulário e de valores que caracterizam a «mudança» instituída e a validam acriticamente como certa. Assim, exigência, força de vontade, desejo de ultrapassar a dificuldade, de compreender e de saber foram substituídos em bloco pela convivência com a facilidade e o sucesso garantido, mais não visando que a obtenção de metas estatísticas. Esta situação atingiu todas as matérias escolares, em particular a disciplina de Português, na qual se privilegiam insensatamente o texto informativo e o texto utilitário, bem como a linguística descritiva e tecnicista, em detrimento da literatura e da gramática normativa, respectivamente. Não podem os professores, em cuja competência os alunos depositam confiança, permitir que o Ensino continue refém dos ditames de «especialistas da educação», cujas teorias conduziram, na prática, à degradação da Escola Pública.
Na selecção dos temas a tratar, a colecção obedece aos princípios estatutários da Fundação Francisco Manuel dos Santos: conhecer Portugal, pensar o país e contribuir para a identificação e resolução dos problemas nacionais, assim como promover o debate público. O principal desígnio desta colecção resume-se em duas palavras: pensar livremente.

Um novo blogue

Há algum tempo que penso criar um novo blogue. Gosto muito de literatura e queria separar essa área dos trabalhos manuais em que se baseia o trapos e papéis. Creio não estar,ainda, suficientenente preparada para uma aventura desta dimensão mas, mesmo assim, vou iniciar.
Sou oriundo de uma daquelas famílias pobres do Alentejo, nasci em 1960 e vivi numa época em que a pobreza era diferente. Tinha irmãos mais novos e aos quinze anos tive que ir trabalhar. Adorei a escola, não era uma aluna brilhante mas era empenhada.
Só depois dos quarenta regressei à escola e o deslumbramento renasceu. Tive a sorte de ter um professor de Português, no ensino secundário, que, pelo modo como me ensinou, fez com que não conseguisse mais deixar de me interessar pela literatura.
Quando eu era adolescente não tinha livros para ler. Na aldeia onde vivia a biblioteca itinerante da Gulbenkian permitia ter acesso a livros. Como não andava na escola e era do campo não me sentia à vontade para ir requisitar os livros. Nem isso era bem visto, afinal para que precisava eu de livros? Era um dos meus irmãos, na altura com 9 ou 10 anos, que me levava alguns.
Um pouco mais tarde, costumo dizer por brincadeira, lia tudo o que tivesse letras, incluindo os livrinhos de cowboys dos rapazes.
Passados alguns anos tornei-me interessada por temas mais elevados e hoje frequento o 2º ano de um curso da Universidade Aberta que embora não me dê benefícios em termos profissionais, dar-me-á um maior conhecimento na área da literatura.
Por tudo isto estou hoje aqui a criar este espaço onde conto aprender muito. Agradeço desde já a todos os que se dignarem perder uns momentos para me apoiar e ensinar.