sexta-feira, 23 de maio de 2014

Ismael e Chopin

Em tempos Miguel Sousa Tavares contou-nos o "Segredo do Rio", agora conta-nos segredos do bosque. É uma história deliciosa sobre a amizade improvável de um coelho bravo, Ismael, e do compositor Chopin na época em que este compôs o Nocturno.
Ismael é um coelho inteligente que valoriza a amizade e a sabedoria dos mais experientes,Chopin é o seu grande amigo que o encarrega de guardar para sempre o seu maior tesouro: a música.
O pai de Ismael, quando estavam sentados em frente à casa, disse-lhe: "Os homens são estranhos, Ismael.Nem sempre escolhem o que mais gostam, aquilo que os faz ser felizes."

Se tiverem oportunidade não deixem de ler...é fabuloso.

Sei bem que nunca serei ninguém



Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Feliz dia para quem é

        

Feliz dia para quem é
O igual do dia,
E no exterior azul que vê
Simples confia!

Azul do céu faz pena a quem
Não pode ser
Na alma um azul do céu também
Com que viver

Ah, e se o verde com que estão
Os montes quedos
Pudesse haver no coração
E em seus segredos!

Mas vejo quem devia estar
Igual do dia
Insciente e sem querer passar.
Ah, a ironia

De só sentir a terra e o céu
Tão belo ser
Quem de si sente que perdeu
A alma p’ra os ter!

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

terça-feira, 20 de maio de 2014

Palavras...


Palavras

"Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente... e não a gente a ele!"
Mário Quintana

Pessoa...sempre.

Tenho Tanto Sentimento

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Pausa

Como as crianças também precisam de momentos de relax deixo-os realizar este tipo de atividade. Acreditem que se portam muito bem e vão mais tranquilos para as aulas. Rapazes e raparigas aderem muito bem a estas coisas e eu não me faço rogada...pois claro.

A minha zona de trabalho







Na biblioteca

Foram dois dias daqueles...

terça-feira, 13 de maio de 2014

Momentos

Viajava quieta... no meu lugar...ia pensando tranquilamente na vida. De repente, reparei na mulher que entrou...ainda muito jovem mas já madura...miúda e morena...muito arrumadinha, sem um fio de cabelo fora do lugar. Sentou-se apressada, no primeiro lugar vago que encontrou. Imediatamente saltou-lhe para as mãos a bolsa da maquilhagem...como se soubesse exatamente que era isso que tinha que fazer......sabe de cor o ritual. A mulher...a tal de figura miúda e morena...começou a usar tudo o que levava na bolsa...com gestos precisos e rápidos... os pequenos solavancos do comboio não a atrapalham.
Disfarçou as olheiras...engrossou os lábios...escondeu as rugas e as manchas...iluminou o olhar e realçou o sorriso. Parecia estar a gostar do que via no pequeno espelho.
Uma voz ao meu ouvido perguntou...porque não fazes como ela?...ias sentir-te mais bonita...mais feliz...mais jovem...experimenta...vá lá...
Não liguei...cheguei ao meu destino e saí do comboio...a mulher lá continuou a preparar-se para viver o seu dia...à sua maneira...como se sente melhor e mais bonita.
Eu também...segui o meu caminho...pronta para enfrentar o meu dia...de cara lavada e caracóis desgrenhados...como eu gosto...como me sinto mais feliz...

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Fernando Pessoa...sempre

"E, perante a realidade suprema da minha alma, tudo o que é útil e exterior me sabe a frívolo e trivial ante a soberana e pura grandeza dos meus mais originais e frequentes sonhos. Esses, para mim, são mais reais."

Livro do desassossego

Pablo Neruda

O Teu Riso


 Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas ...
não me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a flor de espiga que desfias,
a água que de súbito
jorra na tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

Eugénio de Andrade

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais. ...

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...

Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade

Florbela Espanca

Bendita seja a Mãe que te gerou.
Bendito o leite que te fez crescer
Bendito o berço aonde te embalou
A tua ama, pra te adormecer!
...
Bendita essa canção que acalentou
Da tua vida o doce alvorecer ...
Bendita seja a Lua, que inundou
De luz, a Terra, só para te ver ...

Benditos sejam todos que te amarem,
As que em volta de ti ajoelharem
Numa grande paixão fervente e louca!

E se mais que eu, um dia, te quiser
Alguém, bendita seja essa Mulher,
Bendito seja o beijo dessa boca!

Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas" 



As luzes de Leonor

 
A minha próxima leitura. Comprei mas ainda não me atrevi a começar. As mil páginas do livro tornam-no um pouco desconfortável não sendo possível andar com ele para todo o lado nem manusea-lo com facilidade. Mas estou curiosa...a história é bastante conhecida mas cada autor dá-lhe a sua própria interpretação e quero saber qual é o ponto de vista de Maria Teresa Horta, que conheço mais pela poesia. 
 
"Prémio D. Dinis 2011   Um maravilhoso e apaixonante romance sobre a extraordinária e aventurosa vida da Marquesa de Alorna. Um romance sinfónico sobre a Marquesa de Alorna, Leonor de Almeida Portugal, neta dos Marqueses de Távora, uma figura feminina ímpar na história literária e política de Portugal. A grande escritora Maria Teresa Horta, persegue-a e vigia-a nos momentos mais íntimos, atraída pela desmesura de Leonor, no seu permanente conflito entre a razão e a emoção. Acompanha-a no voo de uma paixão, que seduz os espíritos mais cultos da época, o chamado “século das luzes”, e abre as portas ao romantismo em Portugal. Um maravilhoso e apaixonante romance sobre a extraordinária e aventurosa vida da Marquesa de Alorna.
Fonte Fnac

Pessoa sempre

O que ando a ler. Fernando Pessoa é uma leitura permanente nas minhas escolhas.