sexta-feira, 8 de outubro de 2010

DOPPELGÄNGER

Termo alemão para sósia ou duplo de uma personagem, uma espécie de alma gémea ou mesmo um fantasma que persegue um indivíduo, confundindo-se com a sua própria personalidade. É o caso da narrating soul que envolui no romance Time’s Arrow (1991), de Martin Amis. Neste caso, trata-se de um ser que não quer conhecer o sofrimento humano, « a sentimentalized fœtus, with faithful smile » (2ª ed., Penguin, Harmonsworth, 1992, 50) e que habita a personagem Odilo Unverborden. O doppelgänger nunca é visto por ninguém a não ser pelo seu portador. Não se vê ao espelho, não se mostra a mais ninguém para além da nossa mais perturbadora auto-consciência. A ideia de um sósia ou duplo fantasmagórico pode não envolver uma relação tão íntima entre o doppelgänger e o seu portador. Em termos menos abstractos, podemos falar desta relação quando uma personagem se inscreve na história literária com um nome que tem já uma tradição, e que se lhe apresenta como um fantasma sempre incómodo.
O homem tem sempre que aprender a viver com as suas próprias sombras ou réplicas. Esta é uma crença primitiva, pois desde sempre se acreditou que um encontro imediato com o nosso doppelgänger é um sinal de que a morte está próxima. Toda a literatura de terror e de horror faz uso desta personagem de forte impacte psicológico, não como mortos-vivos mas como seres que vivem para nos atormentar ou para vencer os nossos medos e terrores. O Duplo (1846), de Dostoievsky, apresenta-nos um terrível duplo de Golyadkin, clérigo infortunado no amor e na vida, que será vencido por si próprio.

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