sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Simbolismo

0 movimento simbolista encontra na literatura francesa a sua referência fundamental. 1886, vinte anos depois de ter saído o Parnasse Contemporain e vinte e três antes do Manifesto Futurista de Marinetti, apareceu “Le Symbolisme” de Jean Moréas, que o publica, como acontecerá depois com Marinetti, em Le Figaro. Neste manifesto considera se que o simbolismo é um resultado da própria evolução da literatura, admitindo-se que essa evolução é cíclica. 0 que o caracteriza, segundo Moréas, são as metáforas estranhas, o vocabulário novo harmonicamente sustentado e aberto à valorização do ritmo, particularmente sensível no alexandrino (devido à questão da ce­sura), etc. Outro aspecto abordado, mas na parte final e brevemente, diz respeito ao “romance simbólico”, que se admite acompanhar a evolução da poesia e centrar?se numa “deformação subjectiva” (a qual assenta neste “axioma”: “a arte apenas deve pro­curar no que é objectivo um simples ponto de partida extremamente sucinto”). Moréas aponta uma genealogia para esta nova opção literária sendo os mais próximos precursores no caso da poesia Baudelaire, Mallarmé ou Verlaine, e, mais alargadamente quan­to à prosa, Stendhal, Balzac, Flaubert e Edmond Goncourt. Em 1886, apareceu também Le Décadent, revista a que está ligado A. Baju, La Décadence, outra revista, de que René Ghil é secretário de redacção e, do mesmo Ghil, o Traité du Verbe, prefaciado por Mallarmé. Saídas no mesmo ano, estas revelam na maioria dos seus títulos uma certa indefinição quanto aos limites entre simbolismo e decadentismo. Se admitirmos que Baudelaire é a referência que vem dos anos 50 (1857 é a data de publicação das Fleurs du Mal), poderíamos, aproximativamente, admitir o desenvolvimento de duas linhas paralelas. Uma — que conduziria ao simbolismo — passaria pelas grandes obras, algumas delas reportando?se aos anos 70, de Mallarmé, Verlaine e Rimbaud; a outra — que acompa­nharia o desenvolvimento do decadentismo — seria traçada por Rollinat (Les Névroses, 1883), Huysmans (A Rebours, 1884) ou, já sob a forma de pastiche, pela publicação que H. Beauclair e G. Vicaire fazem de Les Deliquescences (1885), aliás atribuída a Adoré Floupette. Oscilando entre estas duas orientações, dir?se?ia que do lado aos decadentes prevalecia, uma temática, sendo esta marcada por uma tonalidade disfórica, pelo pessimismo, o dolorismo, a nevrose, a deliquescência, retomando estas duas últimas palavras dois títulos atrás referidos; do lado dos simbolistas prevalece uma mais funda consciência do papel que as figuras — símbolo, metáfora, imagem — e o ritmo — em consonância com este corpo figural — desempenham na linguagem poética, o que Moréas traduziu sob uma forma aparentemente enigmática: a poesia simbolista procura “vestir a Ideia de uma forma sensível”.
Fernando Guimarães

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