sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Modernismo

Como categoria periodológica, Modernismo viria a designar sistematicamente, e primeiramente na Inglaterra e nos U.S.A, uma classe de textos literários com feições diferenciadas e condicionadas pelo seu próprio tempo histórico de produção e recepção. No dizer lapidar de uma modernista, a diferenciação teria sido profundíssima: «Por volta de dezembro, 1910, a natureza humana modificou‑se». (Woolf, 1966: 320) A quem repugne a «natureza humana», que esta observação torna de resto menos «metafísica», poderia dizer‑se que mudou pelo menos a «natureza» dos textos literários; e que em muitos casos a mudança se traduziu num encaminhamento da literatura para a suposta natureza deles.
Dando corpo ao consenso que deve exprimir‑se num «dicionário de termos», Wendell V. Harris delimita o período modernista entre 1912 e 1930, dizendo a delimitação «grosseira». (Harris, 1992: 238) E a extensão mais consequente à literatura continental, acertada já pelo relógio anglo‑saxónico, deve‑se porventura a Fokkema e Ibsch, (1987) que alargam o período para 1910‑1940. Em ambos os casos, estamos perante a afirmação e o triunfo da literatura modernista. E os dois últimos autores perspectivam‑nos o objecto tão continentalmente incontroverso quanto seria mainstream. Não podem não ter razão. Haverá obras mais modernistas do que Os Moedeiros Falsos de Gide, Os Sonâmbulos de Broch, ou O Homem sem Qualidades de Musil?
O uso daquele nome foi ele próprio historicamente condicionado, quando não inibido. Nos países de língua latina teve de, senão ceder‑lho, partilhar o designado com literatura de vanguarda ou aparentados.
As duas designações são inegavelmente motivadas pela ênfase concedida ao ethos e ao pathos do «novo» e da «inovação» pelos próprios autores modernistas, mas também pela contemporaneidade de origem com os chamados movimentos de vanguarda.
Assim, na área hispano‑falante, e por assim dizer antes de tempo, a literatura avançada do simbolismo encontraria para se designar a palavra «modernismo», tornando muito difícil a sua transferência para textos e autores que cada vez mais universalmente se designam como modernistas; em França (e não só), o sucesso relativo e recente da designação modernismo parece depender da estima que vai sendo concedida a termos como pós‑modernidade e pós‑modernismo; (cf. Compagnon, 1990) em Itália, literatura de vanguarda gozou até muito tarde de uma preferência geral, talvez porque modernismo designara com a autoridade do papa e do dogma as condenáveis «ideias modernas», tão cedo como 1907.
Américo António Lindeza Diogo

1 comentário:

  1. Essa é a fase da literatura que mais me atrai.
    com a chegada dos modernistas o verso ficou livre e a prosa desvinculou-se das amarras do passado.
    aqui no brasil tivemos grandes escritores -poetas surgindo através desse movimento. Bandeira , Oswald e Mario de Andrade foram os principais articuladores do movimento , que culminou na semana da arte moderna , a tão falada ¨pauliceia desvairada¨

    Luzia !
    sua postagem foi magnifica , foi acompanhar seu blog mais de perto !

    Um Beijo !

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